Cotidiano

História triste

tristeza

Por: Zeneide Ribeiro de Santana

Nunca me esqueci de uma história ouvida da própria protagonista e que até hoje me causa arrepio e horror.Ela era jovem, pobre, sonhadora e vivia na região da seca, no Nordeste. Envolveu-se com um caminhoneiro, por quem se encantou e que prometeu levá-la para morar no Sul.Resultado: engravidou e, tal qual a moça da música do Chico Buarque, ficou esperando, parada, pregada na pedra do porto /com seu único velho vestido, cada dia mais curto”. Nenhuma notícia dele.

Com muita dificuldade, apoiada só pela mãe, teve o filho num período de extremo nervosismo, sempre aguardando a volta dele. Passados alguns dias, soube que ele havia chegado, mas não foi vê-la. Injuriada, saiu para surpreendê-lo num bar, bebendo, abraçado a umas mulheres que riam muito dos seus gracejos. Chamou-o com um ar tão determinado que ele não ousou contrariá-la. Em casa, mostrou-lhe a criança que dormia num canto do velho sofá. Já meio embriagado, nem olhou para o menino, dizendo que ela não podia provar que ele era o pai.

Enfurecida, tomada pelo ódio e pelo ciúme, ela não raciocinou: pegou a criança e atirou-a nos braços dele. Assustado, ele se afastou e o bebê foi de encontro à parede da sala. Morreu dois dias depois.

Horrorizada, perguntei como ela não tinha sido presa e ela disse que contou, no hospital, que ele havia caído do seu colo, quando tropeçou e rolou pela escada.

E o pior foi que ela narrou tudo calmamente, como se estivesse lembrando algo corriqueiro, uma aventura da juventude. Não senti na sua voz  um só milímetro de arrependimento. E eu, que na época fazia um tratamento doloroso por causa da minha  infertilidade, fiquei em choque, pois aquilo me pareceu uma ironia cruel demais.

Não quero nem posso julgar ninguém, mas quando me lembro de casos como esse, peço a Deus misericórdia para aqueles que, nos dias de hoje, ainda continuam não sabendo o que fazem.

About the author

Zeneide

Meu nome é Zeneide Ribeiro de Santana, professora de Língua Portuguesa e Literatura. Já sou aposentada e aproveito meu tempo lendo bastante e tricotando um pouco.

7 Comments

  • Zeneide,

    Não sei se realmente me esqueci da história, mas não me lembro de nada parecido…. Mas você tem razão: como é triste se perceber que ainda hoje há pessoas que não sabem o que fazem… Quanta dureza de coração! Só o Senhor para ter misericórdia de cada um de nós…

    • Às vezes é bom não se lembrar mesmo! Se não fosse a misericórdia divina “seríamos consumidos ” de fato. Beijo..