À toa

Andorinha lá fora está dizendo:

– “Passei o dia à toa, à toa!”

Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste!

Passei a vida à toa, à toa…

       (Manuel Bandeira) 

Vez ou outra nos pegamos fazendo um balanço da vida, pensando no que fizemos ou deixamos de fazer. Será que se tivéssemos o poder de começar de novo, faríamos tudo do mesmo jeito? Ou tomaríamos outros rumos, escolhas e decisões? Divagações apenas, pois o tempo não volta e o passado nunca poderá ser mudado.

Talvez haja coisas das quais até nos orgulhamos, pois, mesmo tendo feito o bem para o próximo, nós é que fomos beneficiados. Poderá haver também arrependimentos por certas ações ou omissões que deixaram marcas negativas na alma.

Pensar séria e honestamente em tudo isso pode ser importante para a correção de falhas e a mudança de atitudes. Todos erram e aprender com os erros é o melhor que se faz.

Entretanto, o que não dá é adotar a inércia como norma, viver na ociosidade, passar a vida à toa, como diz o verso de Manuel Bandeira. Deve ser terrível uma vida sem objetivo definido. Outro dia li uma frase numa camiseta: “Não sou 100% inútil; posso servir de mau exemplo.” Achei engraçado, mas triste também.

Lembro-me do texto bíblico que relata a morte de Dorcas, uma cristã que sabia costurar e usava sua habilidade para ajudar pessoas necessitadas, especialmente órfãos e viúvas. Sentidos, choraram muito e procuraram o apóstolo Pedro, que orou por ela. Dorcas voltou à vida, na qual nunca esteve à toa. Foi a única mulher da Bíblia a ser chamada de discípula, ou seja, seguidora de Jesus, aprendiz, aquela que se senta aos pés do seu Mestre…

Claro que todos precisam de descanso, de lazer, de férias… O que não entendo é passar o tempo todo à toa, sem procurar algo que traga satisfação ou paz interior.  Se “enquanto há vida, há esperança”, e estamos bem vivos, vamos tratar de arrumar algum tipo de ocupação prazerosa, que produza o bem. E, se também render algum ganho financeiro, não fará mal nenhum!!