Cotidiano

Luto: Presente do Indicativo do verbo lutar

Written by Zeneide

Sempre que vejo a palavra Luto, em negrito, letras enormes nos posts, sinto o coração apertado: Quem se foi?

O mesmo acontece quando encontro cortejos funerários ou passo pelos cemitérios e vejo pessoas reunidas, conversando em voz baixa, ar entristecido. Mesmo que sejam desconhecidos, dirijo a Deus uma prece pedindo conforto espiritual para aquela família.

Mas, quando chega a nossa vez, é tudo muito pior… Por mais que nosso cérebro sinalize, nossas emoções não estão nem aí para a racionalidade…Sabemos que a morte vem, é necessária, mas como nos preparar para esse momento indefinível?

Parece que ficamos entorpecidos e agimos de modo mecânico, como se tivéssemos de desempenhar nosso papel nessa separação… Aí está o cerne da dor: a separação, extremamente difícil. Para nós, que pressentíamos, mês a mês, semana a semana, depois dia a dia a proximidade da despedida, pudemos fazer isso aos poucos, graças a Deus. Apesar das dificuldades, sei que o Gilberto pode sentir o amor, o cuidado, a generosidade com que todos o tratamos sempre.

Mesmo assim, doeu muito e continua doendo. Como escreveu José Saramago “Se tens um coração de ferro, bom proveito! O meu fizeram-no de carne, e sangra todo dia.”

Sei que esse sentimento é normal e vai se amenizando com o tempo. Esse período é difícil, mas necessário até para manter a sanidade (O lado racional prevalecendo de novo!)

Talvez por isso, de repente, me deu um “estalo”! Melhor deixar de considerar o LUTO como um substantivo abstrato, que para mim está sendo bem concreto! Por que não considerá-lo uma forma verbal? É só conjugar o verbo lutar no Presente do Indicativo : Eu LUTO!

Afinal, lutar foi a especialidade do Gil, em muitos sentidos. Lutou por sua família, seus projetos e seus sonhos. E, nos últimos quatro anos, lutou pela sobrevivência de um acidente terrível e depois contra três tipos de câncer, que o atacaram sem piedade, a ponto de a Dra. Graça, dizer sempre: “Sr. Gilberto, o senhor é um guerreiro dos bons!” Tivemos, certamente, ajuda imprescindível da família, dos irmãos e amigos, verdadeiro exército de companheiros na oração, pelos quais ele se sentia grato.

A partir de agora, LUTO para vencer essa tristeza, prometo! Mesmo que demore!

About the author

Zeneide

Meu nome é Zeneide Ribeiro de Santana, professora de Língua Portuguesa e Literatura. Já sou aposentada e aproveito meu tempo lendo bastante e tricotando um pouco.

10 Comments

  • Saber colocar esse sentimento em palavras é um dom raro. Fazê-lo com sabedoria e compreensão da vida é graça concedida por Deus.

    • Ah. Marly! A generosidade do seu comentário me comoveu! Muito obrigada, de coração. Deus a abençoe, sempre!

  • Assim como disse o salmista: “o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem ao amanhecer”.(Salmos 30:5b)
    Não, não escreverei sobre o ânimo, nem sobre a esperança, nem palavras positivistas. Mas escreverei sobre essa noite.

    Que “esta noite” demore o tempo que for necessário para aparar arestas, recolher lágrimas, espalhar lembranças, cicatrizar feridas, amenizar corações. Foi Deus que criou a noite, também. Possivelmente, Ele também quer nos ensinar a agradecê-lo pela noite. Seja esta noite, qual for.

    Que este amanhecer venha, quando esta noite cessar. Mesmo no meii da noite, pode ser possível acreditar que vai amanhecer.

    E quando esse amanhecer vier, nem que este venha aos poucos tenho certeza que virão mais textos, ainda, inundados de tanta alma, como este.

    Enquanto atravessam esta noite, ofereço apenas o que posso, que é minha destra de companhia e meu ombro pros momentos em que a noite estiver escura e longa demais, a ponto de não conseguir enxergar os pés que estão a caminhar.

    Um beijo, com carinho.

    • Muito obrigada, querida, por me lembrar que essa noite terminará, não importa quanto tempo leve… E também a certeza de que, quando a manhã chegar, as misericórdias do Senhor serão renovadas. Obrigada pelo carinho e pela companhia. Deus abençoe sua vida.

  • Querida Professora, desde o primário nos ensinou a ver o mundo e as pessoas de maneira diferente e singular, e agora novamente. Está nos dando a certeza que devemos, todos, LUTAR sempre, por todos os que amamos e queremos bem. Está nos ensinando que Grandes Guerreiros não são somente os que se vão, porque foram fortes e nos deixaram esperanças e boas recordaçoes; Grandes Guerreiros são os que ficam, e lutam bravamente mantendo viva a memória dos que partiram, e ainda confortam os que ficaram, como você.

    • Querido Marcos Augusto, você não faz ideia de como seu comentário me fez bem! Não me esqueço de você naquele tempo, nem da sua turma, tão especial. Que bom saber que você cresceu, amadureceu e conserva esses valores tão bem assimilados! Deus o abençoe em todos os seus dias e o guarde na sua maravilhosa paz.

  • Pois é minha irmã querida, nós nos preparamos para a vida. Mas para morte, msm sabendo q ela é inevitável nós nunca estamos preparados! E qdo ela chega temos a impressão de nos pegou de surpresa!Achei mto interessante a sua colocação sobre a palavra”luto”
    É isso aí minha amiga e irmã querida, força pra vencer as lutas,pq o Senhor é contigo!Deus te abençoe e te renove a cada dia! Bjo grande

    • Amém, Diva! Nunca nos preparamos… Não sabemos como… Sou grata a Deus pelo seu cuidado constante e pelos amigos que, com você, estão me ajudando nesse período. Obrigada, de coração

  • Zeneide,querida cunhada,bem sei como é este momento que vc atravessa.Buscar o companheiro para dividir dúvidas, alegrias, frustrações, etc…e sentir grande ausência , um imenso vazio e mesmo acompanhada, se sentir só. Lutar é realmente o melhor caminho para esperar o amanhecer ,sabendo que só o tempo, vai acalmar seu coração.Deus cuide de vc. e de sua casa.

    • É, Josefina, infelizmente você entende bem disso… Obrigada pelo encorajamento. Como você disse, o amanhecer há de chegar, com novas esperanças. Deus cuide de você também!Abraço.