Cotidiano Lições

Sobre os tombos

Written by Zeneide

Que coisa chata é levar um tombo! Como a gente se sente idiota por ter caído! Não poderia ter sido mais cuidadoso, mais atento? Por que não prestei atenção naquele desnível, no tijolo saliente ou no degrau desgastado?

A sensação de culpa vem acompanhada de uma vergonha sem tamanho. Como é ruim admitir “Cai!” “Levei um tombo!”, “Capotei!” Isso parece soar como a admissão de incompetência, de burrice, enfim.

E a cara dos espectadores, alguns demonstrando pena e preocupação, outros se esforçando para não rir?

Pior ainda ouvir de alguém próximo: “Eu não falei?”,”Por que subiu no banquinho?” “Não podia pedir para mim?”

Aiaiai! Cair é uma ação irreversível, sem volta.

Há tombos de vários tipos, dos poéticos aos jocosos ou horripilantes:

– Caiu suavemente, em câmera lenta, como uma pétala de flor…

– Sentiu tontura e quando viu estava estendida no chão, sem entender nada…

– Se esborrachou no chão como uma jaca madura…

– Despencou de repente, como chuva de verão…

– Veio rolando escada abaixo, como um pião desgovernado…

– Tombou de repente como uma árvore atingida por um raio…

– Caiu de bruços, com os braços abertos, como um maometano em oração…

– Escorregou e deslizou de costas como sei lá o quê…

Pois foi um tombo muito bobo o meu mais recente: fui pegar uma pimenta madura, tropecei e caí de lado, batendo um ombro no chão de concreto. E agora aqui estou, curtindo uma dorzinha ardida, sem graça, que me faz digitar muito lentamente este texto.

Como todas as circunstâncias da vida, as quedas nos ensinam bastante. Aprendemos que:

– Não precisamos ficar no chão, pois ali não é nosso lugar;

– Podemos nos reerguer e nos tornar mais fortes;

– De certa forma, saímos mais espertos, procurando estar atentos;

– Não somos tão independentes como gostaríamos, pois precisamos de ajuda;

– A enfrentar a dor e a seguir em frente, vencendo os obstáculos que se nos apresentarem:

– A manifestar gratidão, pois poderia ter sido muito pior…

Quanto ao lado espiritual, sempre vale lembrar a advertência:

“Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia”. (I Coríntios 10: 12)

 

 

About the author

Zeneide

Meu nome é Zeneide Ribeiro de Santana, professora de Língua Portuguesa e Literatura. Já sou aposentada e aproveito meu tempo lendo bastante e tricotando um pouco.