Circulando pelos corredores de um supermercado, à noitinha, observei um rapaz olhando facas de cozinha, com ar interessado. Pegou uma, bem grande, e começou a manipulá-la para lá e para cá. Quando uma senhorinha idosa, muito bem vestida se aproximou, o moço perguntou-lhe:
– Tia, esta faca é boa para cortar carne, fazer uns furos nela?
Fiquei por ali, examinando outros utensílios de cozinha e ouvi a mulher explicando a utilidade das diversas facas. Lembrando os muitos livros de histórias policiais que havia lido, fui ficando preocupada. Quem seria aquele rapaz? Quais seriam suas verdadeiras intenções ao abordar a velhinha? Será que ele a estava seguindo? E aquela história de escolher facas? Com tantos casos que se ouvem diariamente nos noticiários, ela poderia ser uma vítima em potencial: colar bonito, ar ingênuo, carrinho com alguns produtos caros…
Até desisti de alguns outros itens que pretendia levar; resolvi acompanhá-la de longe, depois que o rapaz se afastou. Fiquei atrás dela no caixa, pensando em chamar alguém, se fosse necessário, pois havia pouca gente no local.
De repente, vi o moço se dirigir ao caixa do lado; tive, então, certeza de que ele a estava seguindo. Quem sabe iria estrear a faca, na saída, para assaltar a pobre senhora?
Assustada, coração acelerado, paguei minha compra e apressei os passos para alcançar a velhinha.
Então ouvi:
– Valeu, tia, obrigado por me ajudar. Se quiser, apareça pro churrasco amanhã à tarde.
– Obrigada, meu filho, mas estou velha demais pra esses programas da moçada. Dê um beijo na sua mãe Olívia.
“Não julgueis para que não sejais julgados” – foi a repreensão que eu mesma me apliquei, enquanto me dirigia muito sem graça para casa.