A primogenitura era (ainda é?) importante nas antigas culturas, especialmente para o sexo masculino, com direito a bênçãos e heranças.
Sou primogênita, paparicada por ser também primeira neta e sobrinha. Fora isso, não tive muitos privilégios. Ao contrário, fui mais solicitada a ajudar em casa, mais impedida de sair, de viajar, entre outras restrições. Também, por ser mais velha, auxiliava minhas irmãs nos estudos, quando necessário. Só que minha irmãzinha caçula (aquela que adora contar que fui sua babá…) abusava da minha boa vontade.
Quando ela estava na quarta série, eu já concluía o Curso de Magistério (sete anos de diferença, sim!). Toda vez que ela estudava um texto novo, sua professora mandava pesquisar o vocabulário. Em vez de procurar as palavras no dicionário, a espertinha perguntava para mim e eu explicava, sempre que sabia. Uma ocasião, eu ocupada preparando um plano de aula para avaliação no dia seguinte, lá veio a Zélia perguntando “O que é blasfêmia?” Atenta à separação do meu material, já irritada, apontei para o dicionário, na estante ao lado e disse: “É aquilo ali”.
No outro dia, ela chegou da escola bufando, soltando faíscas de tão brava comigo. Nossa mãe, sempre conciliadora, perguntou a razão de tanta ira. Aí ela contou que quando a professora perguntou o que era blasfêmia, ela respondeu: ” É dicionário!”. Foi uma gargalhada geral na classe. Imaginem só, logo ela, tão esperta, pagando aquele mico!
Por muito tempo, na família, quando surgia uma dúvida de vocabulário, a gente falava: “Consulte a blasfêmia!”
Nossa! sabe que revivi toda esta cena! Quanto tempo se passou! Será que eu mudei?
Acho que não mudou tanto assim. Continua esperta, embora , às vezes, pague algum mico, o que é normal. Que atire a primeira banana quem já não pagou mico!!!
Zeneide, como sempre,nos fazendo rir e chorar com sua sabedoria.
Adorei!!!
Bjs
Obrigada, amiga! A vida é feita de momentos que nos marcam pela emoção que nos causam. Se conseguir passar isso, fico feliz… Beijo.
[…] Mais uma da minha irmã Zélia, aquela da “Panela velha” e da “Blasfêmia”. […]