Não entendo de música, sempre tive dificuldade com pautas, notas e claves. Mas gosto de ouvir, apreciar uma bela voz, um coral harmonioso ou certos instrumentos, em solo ou conjunto.
Na minha época de escola, a música era disciplina obrigatória, tanto no ensino fundamental como no Magistério. Participávamos do orfeão do Instituto de Educação Peixoto Gomide, de Itapetininga, regido pela professora Anna Zilpah. Ensaiávamos para nos apresentar orgulhosamente em todas as datas cívicas e demais solenidades do Colégio. Minhas irmãs Zeni e Zenildes, com suas boas vozes e cantavam soprano e contralto, respectivamente. Sem falar da prima Vasti, apaixonada irremediavelmente pela música, da qual até hoje não se separou.
Numa tarde, reunimos um grupo de meninas para conhecer a chácara onde morava uma colega, num bairro bem afastado. Andamos alguns quilômetros, chegamos cansadas e aí entendemos por que ela vinha à cidade de charrete, para estudar.
Foi uma delícia aquele passeio, em todos os sentidos. O lugar era lindo, havia muitas frutas lá e ficamos um bom tempo no pomar saboreando tangerinas e laranjas de várias espécies. Comemos tanto que nem pudemos aceitar o lanche de pão e queijo caseiro que a mãe dela queria nos oferecer. Além disso, cada uma de nós ganhou uma sacola cheia de frutas para levar para casa.
Na hora de nos despedir, a Maria José, melhor amiga da Zeni, uma das mais belas vozes do coral da escola, perguntou para aquela mulher:
– A senhora gostaria que eu cantasse alguma música ?
Surpresa, a mulher simples, meio envergonhada por receber as meninas da cidade, respondeu sim.
A Zezé, então, aproximou-se da janela, que serviu de moldura para sua beleza serena, e cantou “Luar do Sertão” , “No rancho fundo” e ” Tão longe de mim distante”. Sua voz aguda e afinada parecia penetrar não só o ambiente, mas também a alma de todas nós. Era visível a emoção da mãe da minha colega, que enxugava os olhos na ponta do avental.
Foi a forma que ela encontrou para demonstrar gratidão. Aquele gesto me tocou profundamente também e confirmou minha teoria de que não é preciso ter dinheiro para presentear alguém. Os dons que Deus nos dá servem perfeitamente para isso.
Quanta saudades daquele tempo!! A Zezé , sim tinha uma voz maravilhosa, a Zeni também, mas eu, me esforço muito c/ meu “contraltinho” fraquinho até hoje. Essas músicas também me fizeram lembrar o nosso pai tocando violão e nós cantando c/ tanta alegria!!
Como é bom voltar no tempo , de vez em quando. Éramos felizes e não sabíamos, mesmo tendo que “solfejar” e reger o Hino Nacional, valendo nota c/ a profa Ana Zilpah.
Concordo. Mas você reparou que lembramos o passado com saudade, mesmo quando não achávamos tão bom? Precisamos aproveitar o presente, pois um dia também teremos saudade dele, dizendo que “éramos” felizes. Vamos ser felizes HOJE também!
Carpe Diem!