Uma palavra, um gesto, um suspiro, um olhar enviezado podem ser fatores determinantes para desencadear a ira. Seja por exagero de sensibilidade, por fragilidade emocional ou por intolerância, é possível passar rapidamente de um estado de tranquilidade para o mais alto grau de irritação.
Todos estão sujeitos a ela, pois não é fácil ter sangue de barata ou autocontrole suficiente para não se importar com ofensas gratuitas ou injustiças. A própria Palavra de Deus reconhece isso, quando recomenda: “Irai-vos e não pequeis.” Quer dizer, irar-se é normal; agora, não pecar é difícil demais. Trata-se de um sentimento que nos assalta de repente, mas que precisa ser dominado, subjugado. Caso contrário, nós é que seremos comandados por ele e daí advêm consequências terríveis, como o desejo de vingança, de retaliação. E já disse alguém que “a vingança é o mal acontecendo pela segunda vez.” Por isso, há necessidade de superar a ira. “Não se deixe vencer do mal, mas vence o mal com o bem”- é a advertência bíblica.
Se irar-se é próprio do ser humano, cultivar a ira não deveria ser normal. É importante esfriar a cabeça, baixar o nível de ansiedade, avaliar, minimizar, relevar muitas vezes. E, sempre que possível, tentar reverter a situação, reatar relacionamentos, seguir, enfim, o conselho “Não se ponha o sol sobre a tua ira.“
Gosto da frase-título do livro de Rubem Alves “Ostra Feliz não faz pérola”. A irritação faz com que ela reaja, produzindo, vagarosamente, uma linda e preciosa pérola. Então, que tal agir como a ostra? Quando esse sentimento nos molestar, em vez de deixá-lo crescer, evoluir para a ira e tirar a nossa paz, vamos tentar usá-lo produtivamente, com paciência e arte. Certamente produziremos pérolas incomparáveis – tesouros para nós mesmos e para o próximo – e essa atitude terá o efeito de uma poderosa vacina contra a raiva, que nos irá capacitar para uma vida mais feliz e abençoada.
