Sou do tempo em que as professoras usavam roupa social e os professores, terno e gravata para lecionar. Os alunos se levantavam quando eles entravam na sala e só se sentavam quando recebiam ordens para isso.
Um impacto sair do Curso Primário, com uma só professora, bem mãezona, passar pelo funil do Exame de Admissão e chegar à quinta série ginasial, com um professor por disciplina. Lembro-me da primeira aula de Matemática. Já conhecíamos a fama do Sr. Salém, ótimo para ensinar, mas muito bravo. Ele olhou para mim e umas outras meninas baixinhas:
– Ah! Temos uns piolhinhos aqui! De que adianta entrar novinha na quinta série, só para repetir o ano?
Foi aí, diante desse belo estímulo, que resolvi ser muito estudiosa. Precisava mostrar para aquele homenzarrão que estava errado!
Uma colega deixou cair uma enorme borracha redonda, que foi rolando até se encaixar no pé da mesa dele. E lá ficou até acabar a aula. Cadê coragem para pedir licença e pegá-la?
Havia o professor Irineu, apaixonado pela Conquista do México; a dona Elisa, toda certinha, de Trabalhos Manuais; a dona Leda, de Francês, muito elegante; Aparecida Clara, delicada, ensinava desenho Geométrico; o Sr. Graco, idoso, de voz grossa, mestre de Português. Ah! E o doutor Plínio, que nos obrigava a decorar provérbios latinos para responder à chamada. Um dia ele mandou uma aluna à lousa para transcrever umas declinações e sentou-se no lugar dela. Na volta, ela percebeu que ele havia comido toda a pipoca que ela guardara embaixo da carteira!
Voltando ao professor de Matemática… Minha irmã caçula teve aula com ele, alguns anos depois de mim. Sabia, como todos em Itapetininga, que ele continuava a mesma fera: explicando bem, mas apavorando os alunos. Numa aula, ele a viu conversando e, claro, mandou-a resolver na lousa um problema sobre horas, minutos e segundos. Como não estava atenta, ela começou a se atrapalhar. Então, bem irônico, perguntou:
– A senhora não conhece horas?
– Conheço, sim!
– A senhora tem relógio?
– Tenho!
Aí ele olhou para o pulso dela :
– Tem mesmo? E por que não vem com ele para a escola?
Sem medo de ser irreverente, a Zélia respondeu:
– Porque é um despertador!
Quando a classe toda começou a rir, ele também não aguentou. Mandou-a sentar-se e resolveu ele mesmo o tal problema, sorrindo disfarçadamente, deixando aparecer seus dentes amarelados pelo cigarro.
Velhos tempos!
Belas recordações, tenho saudades dos velhos professores, que mantinham a distancia, mas no fundo eram bons e ótimos em suas disciplinas.
Eu também, Marli! Prova disso é que não nos esquecemos deles.Eram exigentes e se faziam respeitar, talvez por isso aprendemos bastante. Beijo.