Por Zeneide Ribeiro de Santana
Todas as manhãs, infalivelmente, lá estava ela, varrendo a calçada. Se houvesse um concurso para premiar a calçada mais limpa, sem dúvida, ela seria a vencedora. Se chovesse ou ventasse um pouco mais, logo em seguida a vassoura se agitava em suas mãos, numa dança ritmada. No dia das eleições, no colégio bem próximo, as ruas se enchem de cédulas e “santinhos” distribuídos pelos candidatos, por mais que se proíba a boca-de-urna. Adivinhem quem era a primeira a varrer toda aquela sujeira em frente a sua casa? Esperar pelos garis no dia seguinte? Nem pensar!
Nunca pude entender se aquilo era zelo pelo meio ambiente ou mania de limpeza mesmo.
Só sei que, num certo sábado, passei pela casa dela e estranhei os tocos de cigarro, papéis de bala amassados, até uma garrafinha de plástico espalhados pelo chão. A vizinha do lado veio me contar que a dona Celina havia morrido de infarto na noite anterior e me informou o local do velório e o horário do enterro.
Chocada, olhei para a garagem cheia de poeira e vi, lá no fundo, a vassoura encostada num canto. Pensei, então, que a vassoura, bem nova, duraria ainda um bom tempo, enquanto que a dona dela…
Refleti em quanto, frequentemente, nos ocupamos com tarefas enfadonhas, embora necessárias, sem dar grande atenção ao que é verdadeiramente importante. Eu mesma, que sempre cumprimentava aquela vizinha, quantas vezes havia parado para conversar, mostrar real interesse por ela?
Sábios seríamos se aprendêssemos a varrer para longe o que não serve para alimentar nosso espírito e investíssemos nos relacionamentos, que poderiam nos aproximar dos outros e muito mais do nosso Deus.