Lições

Compaixão

Por: Zeneide Ribeiro de Santana

Milan Kundera, em seu livro “A insustentável leveza do ser” afirma que todas as línguas derivadas do latim formam a palavra compaixão com o prefixo “com” e a raiz “passio”, que originalmente significa sofrimento. Assim, ter compaixão significa que não se pode olhar o sofrimento do próximo com o coração frio; em outras palavras, sentimos empatia por quem sofre..

A compaixão é inerente ao próprio Deus, a quem chamamos Senhor Deus Misericordioso.  Jesus Cristo demonstrou compaixão pelos sofredores, pelos marginalizados, pelos enfermos, pelo povo faminto. Na parábola do Filho Pródigo, o pai, quando avistou o filho retornando em péssimo estado,“compadecido dele, correndo o abraçou e o beijou.” (Lucas 15:10)

Não deve ser confundida com dó, pena, que pressupõem superioridade. Compaixão envolve a compreensão do estado emocional do outro e o desejo de aliviar sua dor. Não basta apenas se sensibilizar, se emocionar.

Não me esqueço de uma vez, quando visitava uma família, na ocasião da vinda do papa ao Brasil. A TV estava ligada e todos se calaram, para ouvir a bela homilia em que ele falava do amor ao próximo. Naquele instante, tocaram a campainha e um dos filhos foi ao portão. Voltou dizendo que alguém estava pedindo algo para comer. Então, a dona da casa, emocionada até as lágrimas, por ter visto o papa – tão bonitinho e santo! – disse para o menino:

– Fale que não tem nada! Isso é hora de pedir esmola?!

Fiquei profundamente surpresa, chocada mesmo, ao perceber sensibilidade e emoção tão distanciadas da prática… Mas também refleti sobre a  minha necessidade de exercitar mais a compaixão, que deve ser alimentada, praticada e ensinada. Afinal, compaixão, como tantas outras virtudes, aprende-se pelo exemplo.

E há benefícios! Estudos científicos mostram que quem exerce compaixão tem aumentado o hormônio que retarda o processo de envelhecimento e  produz  bem menos cortisol, o hormônio do stress.

Não, não foi por acaso que Jesus , no Sermão da Montanha, incluiu esta bem-aventurança:

Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.” ( Mateus 5 : 7 )

About the author

Zeneide

Meu nome é Zeneide Ribeiro de Santana, professora de Língua Portuguesa e Literatura. Já sou aposentada e aproveito meu tempo lendo bastante e tricotando um pouco.

2 Comments

  • Estes dias, temos exercitado esse tipo de “compaixão”. Temos um vizinho que não aceita o namoro do filho c/ uma garota. Então, todos os dias eles vem buscar um colchonete na casa do pai e a menina fica esperando na escada. Já a alguns dias , o Manassés tem feito um lanche e suco e levado p/ eles…hoje dei algumas blusas minhas p/ ele. Soubemos que estão dormindo na marquise da antiga Igreja Universal, perto do Joanin. E porque não podemos fazer isso em nossa Igreja? Lá tem chuveiro, instalações ociosas… acho que temos que alimentar o físico e depois conversr c/ eles sobre a situação que estão vivendo, não é? Não sei se estou certa em pensar assim…

  • Sobre ajudar, claro que está certa.Não esperava outra coisa do Manassés. Quanto à igreja, é bem complicado, por envolver muito mais que instalações… É algo que precisa ser pensado, discutido, analisado… E enquanto isso? Aqui, de longe, no momento só posso orar. Beijo.