Escrever com o quê?

Meninos  gostam de brincar de luta. Meu filho tem uma cicatriz dos pontos que levou quando, ainda na escolinha de Educação Infantil, caiu sobre uma porta de vidro, que se quebrou com o impacto. Estava brincando de “lutinha” com o amigo que veio passar a tarde aqui em casa.

Lembro-me bem do dia em que fui à diretoria do colégio, para tratar de um assunto importante e um tanto urgente. Aí entrou a inspetora de alunos, pedindo desculpas por interromper e trazendo pela mão um aluno da quarta série, todo assustado, com cara de choro. Disse que ele sempre brigava no recreio, mas naquele dia tinha sido a vítima; estava com uma ponta enorme de grafite fincada na perna direita.

A diretora, toda preocupada, falou que precisava cuidar logo do ferimento, mas perguntou quem  tinha enfiado a lapiseira nele. O garoto, chorando, falou que não queria contar. A inspetora insistiu, e ele continuou calado, não sei se por lealdade, para não delatar o colega, ou por medo de apanhar mais na saída.

Impaciente com aquele “chove-não-molha” , olhei  para o menino e disse:

– Então, por que você não volta para a sala de aula e tenta escrever com a perna?

Ele arregalou os olhos; a inspetora explodiu numa risada, que logo procurou conter. Olhei para a diretora, que fazia esforço sobre-humano para manter a postura.

Percebendo a gravidade da minha atitude tão politicamente incorreta, pedi desculpas pela intromissão e saí rapidamente da sala. Parei no corredor, rindo até chorar, só de imaginar o garoto, gordinho que era,  levantando a perna para escrever!!!