Trânsito difícil. Pressa. Novamente, um sinal vermelho. Olha a esposa ao lado e os dois filhos no banco de trás. Sorri, satisfeito, ao vê-los fortes e bem vestidos. Movimenta o carro. Outro semáforo. Desvia o olhar da mulher que estende as mãos aos motoristas. Mais uma! Não poderia deixar de trazer nos braços uma criança suja, enrolada em trapos, o nariz escorrendo… Que vergonha esmolar, assim, em plena avenida movimentada, atrapalhando ainda mais o tráfego! E que coragem (ou falta de juízo?) de expor a criança gripada à garoa que agora começa a cair mais forte! Também, ninguém toma providências! Onde estão as autoridades que não cuidam disso? E esse sinal que não abre! Lá vem ela; é bem mais jovem do que havia pensado… Poderia estar estudando, ou trabalhando, em vez de… Mas, aposto como não tem com quem deixar a criança. É o que sempre digo: ninguém faz nada, a Prefeitura não constrói creches, não… Ah! ainda bem que o sinal mudou, bem na hora em que ela ia estender a mão. Antes assim, não precisaria dizer-lhe umas “boas”. Imagine, a criança na chuva! Bem, o melhor é esquecer essa cena deprimente e ocupar o espírito com coisas mais alegres. Agora o trânsito está livre e pode rodar à vontade. Terá tempo suficiente para chegar à igreja, onde participará do programa comemorativo do Natal de Jesus. ………………………………..
O texto acima foi publicado no Boletim da IPI de São Caetano do Sul em dezembro de 1981. Relendo-o, percebi que, apesar das circunstâncias atuais e do novo contexto, nada mudou quanto às atitudes… Infelizmente! Continuamos críticos, voltados para nós mesmos, indiferentes ao sofrimento alheio… Pai, perdoa nosso egoísmo e ensina-nos a fazer a tua vontade. Que teu amor se instale definitivamente em nós e nos faça mais parecidos com Jesus Cristo, neste Natal e por todos os nossos dias. Amém!