Por: Zeneide Ribeiro de Santana
Lisboa, fim de tarde. Na volta do passeio ao Convento dos Jerônimos, depois de ter saboreado os incríveis pastéis de Belém, tomamos o electrico, uma espécie de bonde para voltar ao centro. Sentei-me ao lado de uma senhorinha simpática, de cabelos brancos e lindos anéis de ouro, antigos.
Perguntei se ela morava lá – só isso bastou para que ela emendasse um assunto ao outro, por quase meia hora. Descobriu logo que eu era brasileira , pelo meu sotaque. Mostrou a foto da filha Maria Augusta – nome imposto pela madrinha ( costume da época), o que muito a contrariou, pois queria que se chamasse Maria Sofia, nome da avó. Também falou dos netos queridos, que achei lindos nas fotos.
Contou que já tinha vindo ao Brasil, há mais de trinta anos, no mês de maio, quando sentiu muito frio. Hospedou-se na casa da sobrinha, em Osasco. Será que eu conhecia? “Sim- respondi um tanto pesarosa – mas a senhora conheceu outros lugares, não é?” Disse que andou um pouco por São Paulo – uma loucura! Frustrou-se por não poder ir ao Rio de Janeiro, que tanto queria conhecer. Não chegou a experimentar a comida brasileira, pois a sobrinha só fazia pratos portugueses para agradá-la.
Sorriu satisfeita quando falei que estava gostando muito Lisboa ,cidade que transpira história, profundamente ligada à história do Brasil. Afirmou que lá há muitíssimos lugares engraçados (encantadores) que eu precisava visitar. Afável, querendo ser ainda mais gentil, chegou até a dizer que a Cintia tem alguma semelhança comigo! Achou o nome dela tão lindo como a dona.
Descemos na mesma paragem (ponto). Despedimo-nos como velhas amigas, desejando-nos felicidades.
É bom andar por terras distantes. Melhor ainda perceber que em toda parte existem pessoas que anseiam por se comunicar, repartir experiências, receber atenção do próximo, sair um pouco da solidão do seu mundo interior.
Também fiquei feliz por conhecê-la : uma boa portuguesa, com certeza.