Por: Zeneide Ribeiro de Santana
O dia não tinha sido fácil.Embora trabalhasse em casa, parece que todas as tarefas domésticas se acumularam, dando um nó em tudo. Para completar, a faxineira avisou que não poderia vir. Claro que, diante do caos reinante, a prioridade era cuidar do filhinho de um ano e meio. Só conseguiu se dedicar ao trabalho profissional durante o sono dele da tarde, menos de duas horas.
Agora sim, depois do banho e da mamadeira, ficou brincando bem sossegado no cercadinho, na sala. Por via das dúvidas, deu-lhe mais brinquedos e dirigiu-se à cozinha para preparar o jantar. Descascava legumes, quando ouviu o garotinho falando “Pá, pá, pá!” . Chegou na sala e disse :”Papai já vem, querido, brinque com sua bola!” Voltou para a cozinha, quando de novo ele falou bem alto: “Pá, pá, pá!”. “Ah, ele deve estar com fome! ” Então, de lá mesmo: “”Mamãe tá fazendo seu papá, você já vai comer!” Mas não adiantou; o menino agora chorava: “Pá, pá, pá!” Aí ela largou tudo e pegou-no no colo. “Quer o papai? – mostrou-lhe a foto do marido- ele vem logo…” Ele empurrou o porta-retrato, repetindo “Pá, pá, pá…” “Ah, é o papá que você quer?” Com a colherinha, fez o gesto de comer. Ele sacudiu a cabeça, chorando de novo, sem parar com o bendito “Pá, pá, pá!”.
Nervosa, começou a andar pela casa, sem saber o que fazer. Quando entrou no quartinho dele, ele quase se jogou dos seus braços, apontando para um martelinho de madeira, na caixa de brinquedos. Quando segurou o martelinho, começou a rir, todo feliz, ainda com lágrimas nos olhinhos escuros: “Pá, pá, pá!” Suspirando, a mãe colocou-o de novo no cercadinho, onde ele se distraiu martelando, até ela terminar tudo.
Quando a Bernadete me contou isso, associei o caso ao versículo do Salmo 139: “Ainda a palavra não me chegou à boca, e tu, Senhor, já a conheces toda.”
Como é bom crer num Deus onisciente, que sabe muito bem o que queremos, mesmo que, às vezes, nos dê somente aquilo de que precisamos!