Por Zeneide Ribeiro de Santana
Criança pequena ainda não entende linguagem figurada. Para ela, tudo é muito literal. Lembro-me da minha filha, mais ou menos aos três anos, jantando. Já havia comido o suficiente, mas queria mais, talvez pelo prazer de servir-se sozinha. Disse a ela:
– Está bem! Ponha mais um pouco, mas, se não comer tudo, nós vamos conversar, viu?
Continuei a lavar a louça e logo ouvi:
– Mãe, não comi tudo. Vamos conversar agora?
Comecei a rir e expliquei -lhe que a conversa, na verdade, era um sermãozinho sobre desperdício…
Já contei sobre meu filho arteiro que, quando o pai mostrou-lhe o chinelo e perguntou se ele queria experimentar, respondeu: “Não, não serve!”
As crianças também são muito lógicas. Uma amiga minha levou o filho pequeno ao pediatra, para consulta de rotina. O médico, notando que o menino estava com cara de poucos amigos, para quebrar o gelo, perguntou:
– E aí, Paulinho, você está na escola?
E o garoto, fechando mais a cara:
– Claro que não! Não está vendo eu aqui?
No supermercado, enquanto a mãe separava mercadorias, a filhinha rodava um carrinho vazio para lá e para cá. Aproximou-se um senhor, com as mãos carregadas de pacotes e dirigiu-se à mãe:
– Esse carrinho é seu?
A garotinha, mais que depressa , respondeu: – Não é não! É do supeimeicado!
À medida que crescem, vão percebendo a ironia, quando fazem algo mal feito e ouvem “Bonito, não!”
Mas, a ambiguidade, palavras ou expressões de duplo sentido, podem também confundir adultos. Em nossa família, é lendária a história da vó Bráulia levando uma caixa vazia para o lixeiro que lhe pediu uma “caixinha” … Também, quando comentaram que determinada igreja do interior estava muito fria, sabendo que estava em reforma, perguntou: “Por quê ? Ainda não colocaram o forro?”
Creio que só não haverá mal entendido quando se usar a linguagem afetiva, vinda diretamente do coração. Impossível resistir a um “Te amo” dito com inconfundível sinceridade.
Ótimo! Gostei demais!