Cotidiano

Puxando conversa

mario quintana

Por: Zeneide Ribeiro de Santana

No primeiro encontro dos meus pais, na praça de São Miguel Arcanjo, SP, depois de duas voltas, sem falar nada, mostrando o canteiro, ela perguntou, tímida :
– Vicente, você sabe o nome daquela planta?

-Sei. É “falta de assunto!”

Já lecionava em S. Caetano e ia sempre a Itapetininga, visitar minha família. Numa dessas viagens de ônibus, um rapaz sentou-se ao meu lado, comentando sobre o frio e enveredou para assuntos religiosos. Percebi que era um desses fanáticos que procuram aliciar adeptos para sua igreja, não necessariamente para a vida com Cristo. Disse-lhe que era crente em Jesus e aí ele me encarou, muito espantado:

– Crente, com esse cabelinho curto? Só se for nova convertida!

Abri meu livro e me fechei a qualquer tipo de discussão inútil e desgastante.

– Olha o cordão do tênis desamarrado! – disse-me um tiozinho, entrando no elevador.

Agradeci e enquanto me abaixava  para amarrá-lo, perguntou:

– Você já caiu tropeçando no cordão do sapato?

– Não, Deus me livre!

– Pois eu já…

Quando saímos do elevador, ele ainda ficou um tempão contando a epopeia da sua queda e todas as consequências. Ouvi pacientemente, atrasando meus compromissos, não sem antes prometer ficar mais atenta aos meus cordões.

Esta achei ótima:

– Você bateu o quê?

– Minha perna, que está doendo pra caramba!

– Ah, bom! Pensei que tinha batido o carro!

Nem vou contar que a autora da pergunta foi a Zeni, para o Sérgio, meu caro cunhado…

E a última. Estava num ponto de ônibus, descascando uma bala, quando chegou um velhinho meio capenga, carregando uma sacola de plástico. Educadamente, ofereci-lhe uma, que ele aceitou e abriu com mãos trêmulas.

– Você está sozinha?

Olhei para os lados e respondi:

– Agora não. O senhor está aqui…

– Não é isso. Quero saber se está sozinha na vida. Estou procurando uma companheira, sabe?

Quase caí de susto! Que era aquilo? Eu, nessas alturas da vida, recebendo cantada de uma criatura – para não ser politicamente incorreta – desprovida do menor charme?

Falei:

– Não, senhor, tenho família, marido e filhos, graças a Deus. Boa sorte!

E acenei para o primeiro ônibus que passou, sem nem olhar o seu destino.

Não riam, por favor! Já passaram por situações semelhantes, pensam que não sei?

About the author

Zeneide

Meu nome é Zeneide Ribeiro de Santana, professora de Língua Portuguesa e Literatura. Já sou aposentada e aproveito meu tempo lendo bastante e tricotando um pouco.

4 Comments

  • Muito bom!!! Amei!!! Primeira vez em seu blog e ja me fez rir!!! Sempre darei uma espiadinha por aqui!!!! Parabéns!!!

  • Obrigada, Carol. Prazer em tê-la como leitora! Tenho escrito textos meio sérios demais; de vez em quando é preciso “pegar leve”. Beijo. Deus te abençoe.