Por: Zeneide Ribeiro de Santana
Temos, em Serra Negra, um sofá que, apesar de antigo, é bem confortável. Não cultivo manias como o Sheldon, personagem excêntrico do seriado “The Big Bang Theory”, mas tenho nele o meu lugar favorito para ler,ver TV e fazer trabalhos manuais.
Só que há um espaço entre as almofadas do assento, por onde escorregam alguns pequenos objetos, que são engolidos e vão para o fundo. Dificilmente são recuperados. Uma vez o reviramos de ponta cabeça e, quando o forro foi despregado, ficamos surpresos com quanta coisa encontramos lá: chaves, canetas, clips, tesourinhas, várias agulhas de crochê, uma de tricô, bijuterias, lixas de unha, alfinetes, grampos, papéis de balas, além de quase vinte reais em moedas!
Alguns desses objetos despertaram recordações: a tesourinha da avó que já partiu, o chaveiro, presente de alguém que foi ao exterior, o brinco usado naquele casamento que fracassou… Se a operação for repetida hoje, certamente aparecerão muitos mais.
Isso me levou a refletir sobre aquilo que perdemos. Há coisas que somem da nossa memória, talvez por não terem tanta importância. Outras fazem-nos repensar situações, rever posturas, analisar consequências.
Creio que seria saudável selecionar esses “achados” e separá-los em descartáveis e reutilizáveis. O mesmo deveria ser feito em relação aos sentimentos reprimidos, ocultos e represados no fundo da alma. Por que não descartar amarguras, ressentimentos, mágoas que tanto maltratam e chegam a prejudicar até a saúde?
Entretanto, também perdemos coisas importantes no decorrer do tempo e nem sempre nos damos conta disso. A compaixão, a solidariedade, a gratidão, a ternura, o perdão, por exemplo, poderiam ser perfeitamente reutilizados em nossos relacionamentos. Não saem de moda! Sem dúvida, serviriam para restaurar amizades e beneficiariam nossa própria vida.
“Quero trazer à memória o que me pode dar esperança.” (Lm. 3:21)
Vamos revirar nosso sofá?