Círculo Vicioso
Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:
– Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
que arde no eterno azul, como uma eterna vela !
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:
– Pudesse eu copiar o transparente lume,
que, da grega coluna à gótica janela,
contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela !
Mas a lua, fitando o sol, com azedume:
– Mísera! tivesse eu aquela enorme, aquela
claridade imortal, que toda a luz resume !
Mas o sol, inclinando a rútila capela:
– Pesa-me esta brilhante auréola de nume…
Enfara-me esta azul e desmedida umbela…
Porque não nasci eu um simples vaga-lume?
Machado de Assis
A insatisfação se faz presente em nossa vida. Parece que nunca estamos satisfeitos, como o vaga-lume, a estrela, a lua e o próprio sol, personificados no poema acima. Se
Pode ser até um sentimento positivo, se nos move a melhorar projetos e a realizar sonhos. Mas, quando se torna recorrente, acrescida de mágoa, ressentimento ou inveja, a insatisfação é capaz de amargurar nossos dias. É conhecida a história do rei infeliz a quem receitaram vestir a camisa de um homem feliz, para ser curado. Quando o tal homem foi encontrado, descobriram que ele, um pobre camponês, não tinha camisa!
Sobre o tema, Vicente de Carvalho assim finaliza seu soneto:
“A felicidade está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.”
Encanta-me a afirmação de Paulo, o apóstolo: “Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece.” (Filipenses 4: 12-13)
Isso mesmo: trata-se de um aprendizado! Que estejamos disponíveis a aprender também. Assim, quando perguntarem como estamos, poderemos responder sinceramente, seja qual for a circunstância:
– Estou bem, graças a Deus!