Convivi um bom tempo com muitas pessoas que nasceram, cresceram e ainda vivem na zona rural. Têm um modo próprio de se comunicar e sua fala é bem peculiar, como acontece nas diferentes regiões do país:
-“Tô cansado de trabaiá!”
– “Pagou duzentos conto e hoje vale uns dois milhão!”
– “Sube que um tar de Pamonha morreu no acidente.”
Mesmo numa cidade vizinha, a vendedora da loja me disse:
“-Qué uma sacola pra ponhá as coisa?”
Lembro-me dos versos de Manuel Bandeira no poema “Evocação de Recife”:
“A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil”
Do ponto de vista da comunicação, se disserem :”Nóis joguemo e nóis ganhemo” , entendemos perfeitamente.
Outro dia, liguei o rádio e uma mulher estava lendo um texto da Bíblia, uma parábola de Jesus. Lia gaguejando e errando bastante. Depois, comentou o texto, procurando extrair lições para a vida diária. E o que ela falou tinha coerência!
Então, pensei em como é fácil criticar e mesmo rir dessas pessoas. Sei que poderia ler melhor que ela e, se me preparasse, também poderia comentar aquela parábola. Mas não estou fazendo isso! Ela, sim, com toda a dificuldade, consegue comunicar uma verdade em que acredita. Sua mensagem talvez possa confortar corações angustiados e levar pessoas a melhorar suas atitudes.
Foi a hora de relembrar outro autor modernista, Oswald de Andrade:
Vício da fala
Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados.
Sim, falam teia, teiado, mas constroem TELHADOS, corretamente!
Senhor, também falhamos tanto, se não no modo de falar ou de escrever, erramos em muitos pensamentos e ações. Corrige-nos e ajuda-nos a seguir teu exemplo, pois sabemos que tu és “o caminho, a verdade e a vida”.