Cotidiano

As aves do céu

Written by Zeneide

 

 

Dia tenso. Muitas intercorrências naquela ala do hospital. Macas passando pelo corredor, pacientes voltando do centro cirúrgico, médicos e enfermeiras entrando e saindo dos quartos, pessoal da limpeza atarefado…

Febre. Coleta de sangue, medicação alterada. Sobretudo ansiedade, preocupação, sentimento de impotência diante da enfermidade.

Pensamentos mil. Emoções profundamente divididas: esperança, alívio, de novo a preocupação… Tarde sem fim. Relógio parado. Nada anda, nada se modifica. Coração aperta cada vez mais.

Pela janela, no final do corredor, observo que  o dia vai se findando. Desvio os olhos de mim mesma e vejo os prédios ao fundo, sob um céu pálido, meio nublado e algumas árvores já meio desfolhadas, com raras flores. Típico início de outono.

Quando reflito que a paisagem é tão melancólica quanto os acontecimentos do dia, parece que a depressão quer me envolver completamente.

Mas, de repente aparece um lindo pássaro miudinho, azul-esverdeado, voando sobre um telhado metálico, abaixo da janela. Ele vai parando suavemente e se desloca, penetrando num vão entre as telhas. Pronto! Estava abrigado, protegido dos perigos noturnos. Talvez ali tivesse feito seu ninho para os filhotes.

Então agradeci a Deus pela cena tão simples que me fez levantar a cabeça, confiar mais no seu poder e enfrentar a noite que se aproximava com suas incertezas. Assim como a pobre ave, perdida na cidade, longe das florestas amigas, eu também precisava do abrigo, do acolhimento e do afago do Pai.

“Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?” (Mateus 6:26)

Seremos nós, criaturas de Deus Pai menos dignos de compaixão que as aves do céu?

About the author

Zeneide

Meu nome é Zeneide Ribeiro de Santana, professora de Língua Portuguesa e Literatura. Já sou aposentada e aproveito meu tempo lendo bastante e tricotando um pouco.