Por: Zeneide Ribeiro de Santana
Meu pai tinha um companheiro de pescaria que se chamava Leopoldo, mais conhecido como Leopoldão, pelo seu tamanho. Mas, no interior, sabe como é… Leopordão, que virou nhô Pordão. Era um bom homem, de boa prosa, bem surdo. Era preciso ter paciência para repetir quase tudo até ele entender. Então, lá em casa, sempre que alguém não ouvia alguma coisa, meu pai chamava de Nhô Pordão.
E há coisas que até preferimos não ouvir, como repreensões, críticas, certas verdades… Gostamos, é claro, dos elogios, das bajulações, que inflam nosso ego, das palavras de ânimo, de incentivo. Amamos falar sobre nós mesmos, expor nossas verdades, expressar nosso ponto de vista tão ponderado, impressionar com nosso brilho, sobrepor nossas qualidades.
Li na revista Época (janeiro/2014) sobre o famoso maestro Cláudio Abbado, falecido recentemente. Contam que ele quase não falava nos ensaios. Apenas pedia aos músicos: “Ouça!”, para que escutassem a si próprios e uns aos outros. Assim se constrói a harmonia de uma orquestra.
É mesmo necessário ouvir, prestar atenção no que o outro fala, interessar-se verdadeiramente, sem interromper, ansioso para contar sua própria história – muito mais interessante – ou dar sua receita infalível para aquela situação.
Precisamos, sobretudo, ouvir a voz de Deus, que sempre nos fala por meio da sua Palavra, da natureza ou mesmo por outra pessoa. E não basta apenas ouvir a voz, temos de abrir a porta, aquela que tem maçaneta só do lado de dentro. Que como o menino Samuel, possamos responder:
– Fala, Senhor, porque teu servo ouve! (I Samuel 3:10)
Afinal, não somos nem queremos ser como o Nhô Pordão…