Quando vejo fotos de crianças dançando quadrilha, lembro-me da redação de um aluno do Ensino Médio.
Eu havia pedido que trouxessem uma foto da infância e escrevessem sobre as lembranças que aquela foto lhes trazia. Produziram bons textos, mas nenhum como aquele baseado num lindo casal de caipirinhas vestidos a caráter, perto de uma barraca embandeirada.
O jovem descreveu todo o sofrimento que havia passado naquele dia. Não queria dançar de jeito nenhum, mas como resistir aos conselhos, pedidos e, por fim, ameaças dos pais, principalmente da mãe? Sem falar da professora…
Como ele se sentiu ridículo com a calça falsamente remendada, o bigode de carvão e o chapéu desfiado! Queria desaparecer dali, mas lá estava a menina chata, que ele detestava, toda emperiquitada, puxando-o pela mão. Seguiu-se o momento da pior tortura, acompanhando os outros pares e dançando ao som daquela música horrorosa. Tudo isso, com a bendita menina agarrada nele. Todas as vezes que se referiu à sua parceira, escreveu “Argh!” Nesse ponto, confessou que desde o tempo da Educação Infantil, já rejeitava o sexo oposto. E os pais e avós todos orgulhosos, fotografando e filmando tudo! Injuriado ao extremo, mal conseguiu morder um cachorro-quente, seu lanche predileto.
Foi uma ótima redação e me fez refletir um pouco.
Quem nunca se emocionou e também se divertiu olhando fotos antigas? Criticamos chapéus, enfeites de cabelo, comprimento de calças e saias.
Minha filha e as primas acham ridículas as tiaras que usavam quando pequenas. Nós, mães, gostávamos tanto, que até fazíamos encomendas para a querida vó Dulce, que confeccionava lindas flores de seda, perfeitas, com suas mãos de fada. E ninguém usava tiaras tão bonitas e originais. Até perguntavam onde as comprávamos….
Hoje a moda mudou – tão volúvel como costuma ser – e os adornos são outros (não tão discretos, acho!) Jovens mães enfeitam suas filhas com todo o carinho. Mas podem esperar, quando elas crescerem, também dirão:
– Mãe, como você teve coragem de colocar esse “bagulho” na cabeça da sua filhinha?
É o que dizem:”Quem viver verá!”
Com toda certeza, quem viver verá!