Quando perguntamos por uma pessoa idosa, adoentada, seus familiares quase sempre nos respondem:
– Vai indo daquele jeitinho…
Não é mesmo? E, na nossa cabeça vem a imagem daquela senhora meio encurvada, um tanto ranzinza, que reclama de dores e nem sempre parece consciente do “trabalhão” que está causando. Ou então, daquele velhinho teimoso, lento para caminhar, contando sempre as mesmas histórias…
E pensar que não há muito tempo, aquela pessoa estava em plena atividade, prestando ajuda aos familiares… Então, ninguém comentava que ela estava daquele jeitinho: ativa, cozinhando, limpando, cuidando dos netos, tomando conta até do cachorro para a família viajar tranquila.
Mas era normal! Nada mais que a obrigação. Afinal, era viúva, não tinha compromissos, estava sempre disponível e se contentava com pouco. Nem perceberam como as coisas foram mudando e ela foi perdendo a agilidade. Não estranharam muito quando ela deixou de interagir com a família, sempre no corre-corre. Conversar como se estava perdendo a audição e tinha pavor que rissem dos seus “micos”, como vira fazerem com seus pais e sogros idosos? Os netos, que a adoravam quando pequeninos, agora mal a cumprimentam nas raras vezes em que se cruzam, envolvidos que estão com seus celulares, computadores, estudos e viagens…
Aos poucos foi se encorujando, se ensimesmando, até ficar “daquele jeitinho”.
Minha avó Carolina, mulher forte, prestativa, tinha muita fé e orava constantemente por todos. Para ela, pedia duas coisas: que permanecesse lúcida até o final da vida e que não desse trabalho à família. Minha mãe Bráulia, que tinha essas mesmas características, também fazia os mesmos pedidos, pois, conforme dizia, não queria perder a fé. Ambas foram atendidas.
Agora chegou a minha vez de orar: “Senhor, conserva a minha lucidez e, por favor, não me deixe ficar muito tempo “daquele jeitinho”!
