Por: Zeneide Ribeiro de Santana
O vagão do metrô não estava tão cheio àquela hora. A jovem sentou-se e se acomodou sem olhar para os lados. Logo pegou o celular e começou a mexer nas teclas, um tanto mecanicamente.
Mas, de repente, seu ritmo se acelerou e ela começou a teclar freneticamente com os dedos das duas mãos. Como pode? – pensei com certa inveja. Ela nem reparou na senhora que pediu licença e sentou-se ao seu lado, ajeitando as sacolas com dificuldade. Também não ouviu quando lhe perguntou as horas.
O rapaz bonito que entrou no ponto seguinte pareceu encantado com ela. Distraidamente, afastava uma mecha dos lindos cabelos, que teimavam em cair-lhe na testa e nem percebeu seus olhares, pois o celular absorvia toda a sua atenção. Quando alguém contou uma piada em voz alta e todos rimos, porque era engraçada mesmo, ela nem se virou. Nesse momento, atendeu uma ligação, rápida, e recomeçou a conversa pelo watsApp, com aquele barulhinho irritante. O bebezinho, no colo da mãe, no banco da frente se debruçava, encantado com o ruído e com a luzinha, mas seus gritinhos foram totalmente ignorados.
O rapaz bonito desceu olhando uma última vez para ela, que nem tomou conhecimento da sua existência. Entrou uma senhorinha grisalha reclamando da chuva e sacudindo a sombrinha. Acreditam que nem os pingos tiraram o foco da jovem?
Observando aquilo, lembrei-me do tempo, nem tão distante, quando ainda não existia esse aparelhinho. Sem negar sua utilidade, fiquei me perguntando como ele modificou a vida e o comportamento das pessoas. Quanta diferença! Estranhos se olhavam, trocavam sorrisos cúmplices e até dialogavam numa curta viagem de metrô.
Nos restaurantes, muitos não desgrudam do celular, não olham para o prato, nem para o eventual companheiro. Nas famílias, parece que o diálogo acabou de vez, pois o interesse todo se concentra naquela caixinha mágica. E a ansiedade, o nervosismo quando ela é perdida ou roubada? Ou quando se quebra ou o carregador some? Realmente, o tal telefoninho se tornou essencial, imprescindível…
“O tempo passou na janela e só Carolina não viu” – diz o verso de Chico Buarque.
“A vida passou na janela” e corre-se o risco de não vivê-la – o que é muito, muito triste.