Por: Zeneide Ribeiro de Santana
“Sentimentos e comidas têm sua semelhança. Uma vez frios, podemos esquentá-los e eles ficam mais gostosos.”
Li a frase acima numa parede, enquanto esperava minha vez de passar no caixa do Supermercado Hirota, em São Caetano. Pensei: Será mesmo verdade? Parece que ninguém gosta de comida requentada. Em casa, costumamos chamar de Jatevi o prato servido novamente, às vezes com novo visual.
Claro que há situações em que qualquer alimento pode ser apreciado como a mais fina iguaria. Lembro-me de um trecho do primeiro livro que ganhei, “Pinóquio”. Quando Gepeto serve uma pera descascada ao boneco faminto, este lhe pergunta por que não jogava fora as cascas. E o velho carpinteiro lhe responde: “Porque o mundo dá muitas voltas.”. Realmente, Pinóquio ainda tinha fome e devorou as cascas com a maior satisfação.
Não sou muito adepta de congelados, apesar de eles facilitarem a vida, pois nem todos ficam deliciosos quando aquecidos. Quanto aos sentimentos, bom seria se não esfriassem. Entretanto, acontece regularmente. Basta uma brisa de desconfiança, um sopro de grosseria, um vento de desrespeito ou até uma lufada de indiferença. Nesses casos, é bom tomar logo providências, para não congelar de vez.
E como aquecê-los sem que percam suas propriedades, seu sabor, sua relevância? Creio que a autocrítica é importante nesse processo. Colocar-se no lugar do outro, procurar entender seus motivos e aceitar seu modo de ser ajudam bastante, mas fundamental mesmo é o perdão.
Talvez devêssemos fazer uma varredura nos nossos sentimentos enregelados, para verificar se algo pode ser feito para esquentá-los novamente.
Com paciência e boa vontade, será possível acrescentar alguns ingredientes para que, tal qual os alimentos, os sentimentos sejam reaquecidos e se tornem ainda mais atraentes e saborosos.
Aí, sim, não será uma simples comida requentada, mas requintadíssima. Que Deus nos ajude!