Há quatro anos…
Bel, minha netinha do coração, está com dez meses e ensaia seus primeiro passos. Agora, não fica mais parada: levanta-se, apoia-se no sofá, pega seu livrinho “Animais da fazenda” e me entrega falando “muuuu“. Sei o que ela quer: que mostre cada animal e imite o som dele. Então, lá vou eu: ” a vaca faz muuuu, a galinha cococó…” e assim até o final. Muito engraçado quando chega o porco, pois ela mesma faz o som do ronco!
Interessante a atenção dela em acompanhar a história. Mal chega ao fim, abre o livrinho para começar tudo outra vez. E de novo, de novo… Lembro-me de anos atrás quando mostrava livros de histórias para meus filhos pequenos e da minha mãe que, pacientemente, repetia vezes sem fim as peripécias da vaca voadora, entre outras. Qual é a mãe, tia ou avó que não fez isso? As crianças se encantam…
Sem dúvida, essa é uma atividade extremamente importante e enriquecedora, que os pequenos levam para a vida toda.
Mas escrevo isso por causa da repetição. Não só crianças gostam de ouvir várias vezes. Adultos que apreciam cinema também veem o mesmo filme inúmeras vezes; fanáticos por esporte não se cansam de ver o replay do jogo ou a repetição de lances nos “tira-teimas”, aliás, muito enfadonhos, na minha opinião. Cantamos repetidas vezes a mesma música, que parece pregada em nossos ouvidos desde que acordamos…
E por que será que nos irritamos quando alguém conta para nós o mesmo caso?As pessoas idosas são alvo de piadas e brincadeiras de mau gosto quando começam a contar aquele caso que todos sabem de cor. Parece que ninguém tem paciência para ouvir; alguns até tentam, mas dispersam a atenção ou dão sinais de irritação. E os comentários:
– De novo? Agora ele vai contar aquela da pescaria, quer ver?
Será que ninguém percebe a sombra da tristeza que perpassa pelo olhar do avozinho? Olhar que ele desvia e substitui por um sorriso forçado…
Pois é! Preciso contar que a Helena, minha outra netinha do coração, está com um ano e meio e traz para mim o livro da Ursinha, bate a mãozinha no sofá para eu sentar e fica aguardando ansiosa o começo da história, para dizer no final “Mais!”