“Nossas roupas comuns dependuradas
Na corda, qual bandeiras agitadas
Pareciam um estranho festival
Festa dos nossos trapos coloridos
A mostrar que nos morros mal vestidos
É sempre feriado nacional”
(Sílvio Caldas)
Na linda letra de Chão de Estrelas, Sílvio Caldas esbanja poesia nos versos originais de Orestes Barbosa. Para ele, roupas dependuradas sugerem um festival estranho, mas para mim, também despertam lembranças, dizem sobre trabalho, ocasiões em que foram usadas, necessidade de renovação, entre outras coisas.
Quem morou no interior há muito tempo deve recordar-se dos enormes varais de arame farpado, que dispensavam pregadores, repletos de roupas esvoaçando ao vento da tarde. Quase sempre foram lavadas por uma só pessoa. Sabão ? Aquele de cinza, feito em casa, num longo processo. Máquina de lavar? Nem se sabia da existência desse luxo…Quem tivesse sido congelado nessa época e acordasse agora ficaria perplexo diante do sabão líquido e tantos outros produtos usados em modernas máquinas que lavam e secam!
“Roupa suja se lava em casa” – diz o ditado popular; mesmo assim, é bem frequente o uso das redes sociais para indiretas, fofocas, discussões, agressões que chegam a assustar.
Prefiro voltar à visão poética do varal colorido, cheio de histórias subentendidas, que denotam alegria e compartilhamento. Roupa limpa lembra bem-estar, conforto, cuidado. Não apenas novidade, mas renovação.
Nem sempre é possível usar roupas da moda ou peças sofisticadas, caras… Admiro quem sabe reformar, reciclar e tem criatividade para customizar certas velharias que adquirirem aparência nova e fazem sucesso pela originalidade. Ainda mais nestes tempos de crise, de preços altíssimos, quando começa a se formar uma conscientização sobre o excesso de consumismo…
Creio que o importante mesmo é quem está dentro da roupa, o conteúdo muito mais que a embalagem. Por isso me encanta a expressão que lemos no Salmo 132: “Os sacerdotes hão-de vestir-se de justiça, e todo o teu povo se encherá de alegria.”
Que seja essa nossa vestimenta preferida e que assim Deus nos ajude!