Brincadeira banal, antiquíssima, quase sem custo, que distrai crianças e adultos também. Desde pequena, as bolhas de sabão me fascinam.
Aquelas esferas translúcidas, coloridas, tamanhos variados, num bailado contínuo e rápido produzem um intenso encantamento. O que me impressionava e ainda impressiona é a rapidez, a escassa duração do momento. Extremamente curta a existência delas! Poucas conseguem flutuar mais alto e permanecer no ar, filtrando as cores do arco-íris ao embalo do vento. Que pena vê-las estourar, desaparecer sem ter tido tempo de interagir com tantas outras belezas! Chegamos a persegui-las, a tentar agarrá-las, mesmo sabendo ser inútil.
Como não pensar na efemeridade da vida?
Como bolhas de sabão aparecemos, crescemos e permanecemos certa fração de tempo neste mundo. Somos todos diferentes, únicos. Vemos e conhecemos pouco deste universo; nem todos têm a oportunidade de ultrapassar fronteiras, de se relacionar bem, de compreender o outro e suas necessidades. Quando se percebe, a validade acaba, a hora da partida chega sem apelação.
É bem assim o registro das Sagradas Escrituras:
“O homem é semelhante a um sopro; os seus dias são como a sombra que passa”. (Salmo 144:4)
“Que é a vossa vida? Sois, simplesmente, como a neblina que aparece por algum tempo e logo se dissipa”. (Tiago 4:4)
Entretanto, para aqueles que apreciam as bolhas e se divertem com elas, mesmo depois que elas se vão, permanecem o encanto e a lembrança de como foi bom o tempo da alegria compartilhada. O brilho e o colorido ficam nas retinas de quem curtiu a presença delas. Apesar de lamentar a ausência, conseguem sentir gratidão pela curta convivência.
Ah, como gosto da frase do escritor João Guimarães Rosa:
“O mundo é mágico.
As pessoas não morrem, ficam encantadas”
Que bom se pudéssemos, tal como lindas bolhas de sabão, amenizar tristezas e levantar o ânimo de tanta gente curvada sob o peso da dor! Certamente nossa leveza e nosso brilho contribuiriam para que se tornassem encantadas em vida mesmo!