Cheiros do Natal

Na infância (há quantas décadas, meu Deus!) costumávamos ajudar na decoração do salão social da igreja que frequentávamos em Itapetininga. Os meninos traziam  galhos de cedrinho e outras folhagens e nos reuníamos amarrando os ramos verdinhos em longos cordões, que eram pendurados nas paredes, com laços e muitas bolas coloridas. O efeito era belo aos nossos olhos e sorríamos satisfeitos com o resultado. A árvore enfeitada brilhava majestosa lá no canto perto do palco, iluminando nossas vidas.

E, quando voltávamos para casa, mesmo lavando bem as mãos, o cheiro do cedrinho permanecia até em nossa roupa. “Cheiro de Natal” – dizíamos. Até hoje associo esse odor às festas natalinas.

Na verdade, quando Jesus nasceu naquela manjedoura em Belém, os cheiros foram bem outros. Qualquer pessoa pode imaginar o estado de um local destinado a animais. Provavelmente estava  impregnado pelo odor de fezes e de urina. Claro que não cheira bem o cocho onde é servido o alimento diariamente. Sem mencionar a ausência de água corrente, com certeza…

Pensemos nos primeiros visitantes que o recém-nascido recebeu. Rudes pastores que passavam os dias e emendavam as noites cuidando do seu rebanho. Saíram imediatamente após o anúncio do nascimento de Jesus pelos anjos. Tempo para banho? Nem pensar! Foram como estavam, com cheiro de ovelhas mesmo.

Interessante refletir sobre esses pastores.Sem status, trabalhadores humildes e mal cheirosos, foram os primeiros  a saber a notícia grandiosa. O dono da estalagem e seus hóspedes, que talvez dormissem em lençóis perfumados, de nada desconfiavam. Passaram a noite ignorando o nascimento do Salvador.

Mas o bebê, que chegou ao mundo num ambiente tão pobre e inóspito, cresceu, tornou-se o mensageiro da paz, aquele que curou enfermos, ensinou o bem e doou a própria vida para nos garantir a eternidade. Seu viver foi tão diferente, tão exemplar que atraiu muitos para si com sua presença, como acontece com os que exalam o bom perfume

E nós? Jesus Cristo, o personagem  mais importante do Natal, nos aceita como estamos, seja qual for o cheiro dos nossos erros… Ajuda-nos a ficar limpos para que também possamos exalar seu perfume suave e agradável.