A gente ia caminhando tão bem… Avançávamos já mais devagar, sem tanta necessidade de correr. Havia maior tempo para curtir a paisagem, para acompanhar a germinação, na esperança de alguma colheita.
Tropeços? Sim, mas não muitos. Nada que não pudéssemos superar. Aprendíamos com os rios, a contornar obstáculos, com os beija-flores, a visitar nossos tesouros, com o vento a soprar em horas oportunas, suavemente, sem violência. Rios tranquilos, aves pontuais, vento benfazejo.
Não nos preocupávamos com a duração da jornada; apenas andávamos mais lentamente (pois já tivemos muita pressa, lembra?) e quase sempre de mãos dadas, um esperando pelo outro quando era preciso.
Mas, inesperadamente, a estrada fez uma curva e não percebi a encruzilhada. Foi quando, na virada, perdi a sua companhia. Olhei e de repente você não estava mais lá. Como pôde tomar outro rumo e me deixar desorientada naquele lugar deserto, tão árido?
Olhei de novo a curva da estrada, mas não o vi mais. Nem poderia, pois, devagarinho como andava ultimamente, desapareceu da minha visão.
Morte é isso: “a curva da estrada. Morrer é só não ser visto”, como definiu Fernando Pessoa.
Você chegou ao destino antes de mim, que continuo caminhando não sei até quando. O que me impulsiona ainda é saber que tenho um Guia que me conduz e não me desampara. Também encontrarei a curva da estrada e não serei mais vista pelos que amo.
Entretanto, minha esperança é o reencontro. Quando? Em que circunstâncias? Não sei nem saberei. Onde? Talvez naquele canto da praça, perto do coreto, onde o tio Pedro marcou encontro com seus queridos…
Mas ainda caminharemos juntos, em paz, aquela paz que “excede todo o entendimento”, mencionada pelo apóstolo Paulo..