Desde pequenas ouvíamos essa expressão da nossa mãe, referindo-se a alguma coisa que não deu certo numa viagem, num passeio ou mesmo numa saída para compras.
– Perdi o ônibus, esperei mais de meia hora pelo outro e, quando cheguei, a loja estava fechada.
– Fui a três bancos e todos estavam em greve…
– Corri tanto para não perder a consulta e, quando prestei atenção na guia, vi que era para o mês seguinte…
– Então nos preparamos com as melhores roupas para visitar aquele parente importante e, quando tocamos a campainha, ninguém atendeu a porta. Estavam viajando…
Tempo perdido, naturalmente: a perfeita viagem do corvo.
Só fui entender a analogia quando a relacionei com a história de Noé, o construtor da arca. Muitos dias depois do dilúvio, soltou um corvo que” voou de um lado para o outro e não voltou. Em seguida, Noé enviou uma pomba, mas ela retornou à arca sem ter encontrado nenhum lugar para pousar. Depois de mais sete dias, Noé novamente enviou a pomba e ela voltou com uma folha de oliveira no seu bico e então ele soube que as águas tinham abrandado.
Minhas irmãs e eu ainda utilizamos essa frase, recordando nossa mãe.
E quem já não fez esse itinerário? Confesse! Você também deve ter entrado nesse percurso nebuloso, já correu ou ainda corre atrás do vento, como disse o sábio no livro de Eclesiastes.
Creio que essas ocorrências fazem parte dos contratempos, das adversidades que chegam sem marcar hora, para nos arrancar da zona de conforto.
E, como creio que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus”, sei também que até uma viagem dessas tem seu propósito. Se algo não deu certo, decepcionou ou frustrou nossa expectativa, vamos pensar que se trata de uma oportunidade para a reformulação de planos, para a renovação da mente e nossa própria reinvenção como seres humanos.
Sempre é tempo de aprendizado.