Nas primeiras aulas de Francês, achei muito estranho usar o verbo amar para se referir a coisas, objetos. Por exemplo, havia as frases ”J’aime la soupe”; ‘Il aime sa bicyclette.” Aí eu pensava: deve estar errado. A gente gosta, aprecia, prefere sopa. Mas amar a sopa ou a bicicleta não é correto nem adequado.
Acho que não era só na região sul-paulista de onde eu vim… Em toda parte era costume gostar das coisas e amar pessoas. Alíás, no meu círculo familiar, o verbo amar quase não era muito conjugado, em nenhum tempo ou modo. Mas era sentido, graças a Deus. Até para casos de namoro ouvia-se que a prima Esmeralda estava gostando de um rapaz ou que o marido da tia Ester gostava demais dela… Realmente, amor era uma palavra de luxo, como diz a poetisa Adélia Prado.
Porém, de uns tempos para cá, todo mundo passou a amar morangos, camarões, times de futebol, joias, carros, viagens… Até nas redes sociais, para curtir uma publicação há o ícone “amei”… E lá vêm os coraçõezinhos de todos os tamanhos…. Amei seu vestido, sua resposta, este bolo, aquele filme…
Relendo o texto, percebo que ele transpira passado. Lembranças, exemplos, saudosismo pipocam em todos os parágrafos!!! Interessante que essa constatação não me preocupa nem um pouco.
Por mais que o tempo passe – e passa velozmente – ando encantada com uma definição de vida do escritor Mia Couto: Vida é perfume – ele diz.
E não é mesmo? Volátil, efêmera, inebriante, sedutora, quase sempre… Cada um tem a chance de escolher a forma de se expandir, tocar e sensibilizar as pessoas do seu relacionamento. Pode ser de modo sutil ou ostensivo, ter efeito passageiro ou tão duradouro que se torne inesquecível…
Assumo tranquilamente essa condição e continuo dizendo: gosto de sorvete, amo meus filhos e netos e adoro o Deus Eterno.