Já estava escurecendo quando entrei no Pronto Socorro. Abri a ficha para consulta na Clínica Geral e aguardei ser chamada.
Muito mal, garganta apertada, tosse intermitente, febre, fora as dores no corpo todo. “Uma droga”, como definiria minha mãe… Ignorei os toques do celular, que nem ousei tirar da bolsa, tal era meu ânimo (ou falta de..)
De repente ouvi meu nome e me encaminharam para um corredor enorme, onde deveria seguir uma faixa branca até o final. (Não entendi o resto… só me lembro de que era para entrar na sala 14, sem bater)
Fui andando meio zonza e atravessei uma porta larga (Que falta de atenção, pra quem está cansado de saber que deveria preferir a estreita!) Vi que a faixa branca continuava e segui por ela)
Entrei e vi um homem branco, mais branco que seu avental. Tinha os braços cruzados e um sorriso estranho pregado na carona impassível. Quando falou, sua voz me pareceu vir das catacumbas tal sua entonação grave e gélida ao mesmo tempo. Nem sei por que me veio a certeza: Só pode ser da Transilvânia!
Falou baixo demais (Ou estarei perdendo a audição?) e só pude dizer “Hein?! Foi aí que aquela voz rascante (Que adjetivo!!!) repetiu:
– O que a senhora está sentindo?
Ah, que vontade de dizer: Sinto-me num pesadelo sem precedentes, mal de saúde e agora mal das pernas também! Sinto vontade de saber se estou num delírio causado por febre ou por alguma influência maligna… Quem é tu, criatura? De que sonho dantesco foste expulso para vir parar neste meu reles pesadelo?
Mas, fechei a torneirinha de asneiras (até da Emilia do Monteiro Lobato me lembrei!) e respondi:
– Sintomas de gripe: tosse, calafrios, garganta e demais coadjuvantes…
Sem comentários, preencheu uma guia e me mandou para o Raio X. Mas bem que achei que ele queria me mandar para ouro raio…
Uma hora depois saí do hospital, medicada com injeçóes e inalação. Dei mais uma olhada na sala 14, de novo entreaberta, por onde avistei o doutor Fantasma, braços cruzados, na expectativa da próxima vítima, aliás, paciente.
Tomando os medicamentos, estou me sentindo melhor, graças a Deus e aos cuidados do doutor… (Não citemos nomes!) Por isso resolvi escrever essas memórias, fugindo (quase) inteiramente dos meus temas.
Ah! Esqueci de contar que, quando me estendeu a receita, sem querer toquei a mão dele e senti um choque térmico. Fiquei sem saber se foi pelo meu estado febril ou pelos dedos gelados do Fantasmão. E quando perguntei por qual dos remédios deveria começar, qual era o mais urgente, ele engrossou mais a voz cavernosa, dizendo:
– Nada é urgente!
Pode ser, meu caro! Pra mim, urgente é ir embora daqui!
– Nada é urgente ??? Então, tá!