A mulher entrou no metrô carregando uma sacola e uma criança de mais ou menos dois anos. Com voz cansada, monótona, foi contando sua história de desamparo e necessidades. A impressão que passava era a de que aquele discurso já tinha sido repetido inúmeras vezes com o objetivo de conseguir ajuda para sua família.
A voz arrastada dela não convencia muito, principalmente quando tentava ser dramática, referindo-se às crianças pedindo “um copinho de leite”, nem quando contou que tinha um trabalho em vista para a próxima semana… Mas, e até lá – perguntava ela – o que vou dar para meus filhos?
Percebi que a maioria dos passageiros continuava alheia, muitos envolvidos com seus celulares; outros desviavam os olhos da senhora. No banco em frente, uma senhorinha idosa tirou o porta-moedas da bolsa…
Foi nesse momento que olhei para a menininha apoiada nos ombros da mulher: magrinha, despenteada, olhos apagados… Anemia? Desnutrição? Fiquei de tal modo comovida com aquela criança apática, que não tive como não compará-la aos meus netos saudáveis, tão sapecas e bem alimentados. Meu coração se contraiu e me levou a entregar dinheiro à mulher. Que vontade de dizer “Compre algumas frutas!” Mas me calei e desci na estação seguinte.
Continuo com a imagem daquela criança na mente. Quantas mais existem perto e longe de nós neste mundo?
Se eu, tão pouco comprometida com as necessidades do próximo, consegui sentir compaixão, nem posso imaginar quão grande é o amor de Deus por seus filhos.
Muitos questionam: como um Deus misericordioso permite essa miséria toda? Prefiro pensar no mandamento “Amar o próximo como a si mesmo” e nas palavras de Jesus “o que fizestes a um desses meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”
Isso é comigo e com você!
As oportunidades estão aí, a cada passo. Talvez a nossa ajuda seja a única forma de alguém se sentir amado por Deus. Se a fome é real e está acontecendo hoje, concordo que é melhor dar o peixe, sim. Mas que também tenhamos disposição e sabedoria para ensinar a pescar!