“Há barcos para muitos portos, mas nenhum para a vida não doer”. (Fernando Pessoa)
Quanta vontade de embarcar num deles… Num que me leve pra longe, bem longe…
Sim, poeta, há muitos destinos, tantos e variados portos… Mas cadê coragem pra embarcar? Como cortar as amarras, densas e emaranhadas, plenas de ferrugem produzida pelo tempo da indecisão? Como se lançar ao sabor das ondas aparentemente mansas, que podem ocultar perigos insondáveis?
Logo eu, que sou passageiro solitário, exausto pelas longas caminhadas, surpreendido por turbulências, que ainda trago bagagens, poucas mas inevitáveis? Se for nessa sua conversa de que “não há porto para a vida não doer“, então não posso ver sentido para esse embarque, que talvez seja um tanto prematuro…
Melhor seria me aquietar, retomar a consciência de que há Deus, porto sempre seguro… Necessário também ir me desvencilhando aos poucos dessa bagagem tão inútil que consegue pesar tanto e, assim, sossegar o espírito inquieto… Nada de bolsas ou maletas, pois tudo de que preciso é um coração pleno de fé, de amor e de perdão.
Também não devo me preocupar com datas, tempo e previsões de partida. Quando chegar a hora, partirei de mansinho, com a alma leve, na certeza de que meu barco encontrará o lugar para a vida não doer… Lugar onde mora a paz que ultrapassa qualquer entendimento… E onde “Deus limpará de meus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor”. ( Apocalipse 21:4)