Já pensaram na polissemia da palavra parte? Como assim?
Parte é uma palavra de muitos significados. Entendida como qualquer parcela de um todo, muitas vezes exigimos a nossa parte, por uma questão de justiça e de direito. Muito comum no que se refere a partilha de bens, a dividendos financeiros, ao mérito por trabalho desenvolvido em equipe, só para citar alguns casos.
Quando se trata de algo penoso, desagradável ou que envolve comprometimento, já nem todos querem participar… Sobre fazer parte de algo, sempre há mais interesse se houver promessa de lucro ou de certas vantagens. Afinal, quem quer ter prejuízo? Entretanto, se no final do projeto houver elogios, aplausos e premiação, sempre se procura um jeito de se inserir, mesmo fora do tempo…
Tenho pensado em como, nas atuais circunstâncias, quando o distanciamento nos oprime, sentimos saudade de fazer parte de um grupo, tanto familiar, quanto religioso ou de outra categoria. Encontros virtuais não são a mesma coisa, pois faltam o calor da convivência, o olhar amigo, o riso partilhado, a presença física, enfim.
Ter parte com alguém remete à cumplicidade, à comunhão, à solidariedade. Ou, o contrário, se for o caso de ter parte com o mal…
Lembro-me também dos versos do Funeral do Lavrador, de Morte e Vida Severina: “é a parte que te cabe neste latifúndio” – referindo-se ao pequeno espaço da cova para o enterro. Triste! E como não pensar na frase de Jesus Cristo na comparação entre as atitudes das irmãs Maria e Marta? “Maria escolheu a melhor parte”.
Finalizando, preciso ressaltar que sempre há uma parte que podemos fazer para ajudar alguém, mesmo que seja ínfima. “Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota”. (Madre Teresa de Calcutá)
“Todo pouquinho acrescenta – disse a chuva. E se jogou no mar.” (Provérbio húngaro)
Ah, se cada um fizesse sua parte…
