Há tempos em que tudo perde a graça, concordam?
Conforme as circunstâncias, nosso estado de espírito se afunda num charco de sengracice difícil de descrever. As cores perdem o encanto, os sabores causam fastio, os sons só irritam… Puro desencanto, desinteresse total, apatia sem fim… Tanto faz se chove ou faz sol, ir ou ficar não fazem diferença alguma. Alerta para a depressão? Talvez. Mas pode ser apenas uma fase, sem tempo determinado para acabar.
Entretanto, há pessoas movidas pelo otimismo ou por energia inesgotável, que topam tudo, não veem obstáculos e estão sempre prontas a se lançar em qualquer aventura. Parece que vivem de malas arrumadas para eventuais viagens ou convites… Seu entusiasmo é altamente contagioso…Bem, menos para os imunizados, os desanimados de plantão. Esses últimos ficam parecendo aquele fio do interior do novelo de lã, todo enroladinho, que não a faz a menor questão de se mostrar…
Pois bem! Estava num desses momentos sem graça e sem vontade de me engraçar, quando recebi uma chamada de vídeo, de bem longe… E eis que a carinha sorridente do Levi aparece, com aquela vozinha querida falando: “ Oi, vovó Zê! Que tá fazendo?” Foi nessa hora que minha sengracice se desapegou e se dirigiu para a janela… Junte isso a outra vozinha querida, da Helena, perguntando, também pelo vídeo: “Quando você vem, vovó ? Tô com saudade !” Aí me lembro da Bel mostrando casa e paisagens, me deixando tonta com tanto movimento da câmera. E o Samuel, no carrinho de rolimã, me provocando taquicardia… Será que o João vai ser arteiro também?
Pronto: “Cadê a sengracice que estava aqui? O gato comeu… Não! Voou pela janela, desta vez.
Acho que é para isso que Deus nos presenteia com netos: para que as cores se acentuem, os sons se harmonizem, os sabores se sobressaiam e a vida volte a nos encantar.
Para você que não tem netos, sempre há outros gatilhos que podem afugentar a sengracice: um livro, uma planta, uma música, um telefonema, uma visita, uma olhada para os lados… quem sabe?
E não nos esqueçamos daquele que garantiu: “A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”.