Minha velha amiga (lembram-se?) estava olhando as vitrines de uma loja de utensílios domésticos e, quando viu umas panelas de cerâmica, modernas, coloridas, se encantou:
– Que panelas bonitas! Dá vontade de levar todas! – falou sozinha.
Ao lado, uma senhora, também octogenária, respondeu mal-humorada:
– Comprar panelas pra quê? A gente vai morrer logo!
Minha amiga, que sempre tem uma resposta pronta, dessa vez se calou, ao receber aquele balde de água gelada…
Sem querer discutir opiniões sobre a proximidade da morte, tenho reparado no modo pelo qual nós, idosos, vimos sendo tratados… Sem generalizar, estão atendendo os velhinhos com complacência, indulgência, como fazemos às vezes com crianças. Até os diminutivos que, sinceramente, me irritam, estão na moda:
– Coloque o bracinho aqui (no raio x).
– Pode fechar a mãozinha (pra tirar sangue).
– Abaixe a cabecinha, dobre a perninha … e por aí vai…
Sempre entro sozinha no consultório médico. Na única vez que minha filha foi comigo, o médico me ignorou: fez perguntas, deu explicações e entregou guias e receitas para ela! E quando fomos à loja, escolher armação de óculos, então? A vendedora, muito gentil, perguntou pra minha filha ” Que tipo ela prefere?” Gostei da resposta da Cíntia, gentil também: ” Melhor você perguntar pra ela!” Mas a moça não se tocou e, quando perguntei sobre preços e formas de pagamento, ela foi atrás da minha filha (que havia se afastado propositalmente) para explicar.
Foi aí que agradeci a atenção dela, mas não pude ir embora sem lhe falar, educadamente, para não tratar os idosos como pouco inteligentes, sem vontade própria, sem poder de decisão. Disse que deveria tomar mais cuidado nos próximos atendimentos que fizesse. Seria bom que só se dirigisse ao acompanhante quando percebesse que o idoso era surdo ou não tinha capacidade para entender. Ela admitiu que sempre agia assim e que nunca lhe tinham advertido. Pediu desculpas e me agradeceu, meio emocionada, dizendo que tinha aprendido comigo.
Sobram exemplos de como pessoas agem nos relacionamentos com pessoas mais velhas… Em compensação, fui atendida com tanta gentileza pelo gerente de um banco, que escrevi uma linda e elogiosa avaliação para ele.
Há alguns jovens que brincam, fazem piadas respeitosas, perguntam sobre a juventude dos avós, assimilam até seus provérbios ou frases recorrentes (Onde já se viu? Deus o livre!) Divertem-se juntas as duas gerações! Outros, porém, ignoram, desprezam ou apenas toleram os idosos, mesmo os da própria família.
Acredito, sim, que a forma como se comportam tem tudo a ver com os exemplos que tiveram na própria família. Filhos que observam seus pais cuidarem dos avós com amor e respeito, certamente terão esse mesmo cuidado com os pais quando estes envelhecerem. Dizem que o exemplo não é a melhor forma de educar, é a única! Acredito!