Porque esqueci o celular, tive um dia com experiências no mínimo inusitadas. No ônibus, cedi meu lugar perto da porta a uma idosa ( mais que eu…) com dificuldade de locomoção, que estava se atrapalhando com a bengala. Aí sentei ao lado de uma moça que tinha no colo uma linda menininha que começou a sorrir pra mim.
Na mercearia, uma senhora me perguntou o que eu iria fazer com a tapioca granulada que estava comprando. Expliquei a receita de dadinhos de tapioca e ela ficou tão interessada, que também comprou os ingredientes. Escreveu num papel o número do seu telefone e fiquei de lhe enviar a receita quando chegasse em casa.
Peguei mais algumas coisas e, ao me lembrar de que estava sem o celular (nada de Uber, então!) dirigi-me ao ponto de ônibus. Precisei esperar um bom tempo. Nisso chegaram dois jovens conversando e vi que um deles tinha os olhos vermelhos e disfarçava as lágrimas. O outro procurava animá-lo e dizia que não iria pagar-lhe uma bebida para o seu próprio bem. Falou que já havia passado por isso, que sabia que era difícil, mas que era preciso resistir, mudar de companhia, de casa se fosse necessário para se livrar do vício. Estava feliz por estar ” limpo” há meses.
Eles se despediram e, quando o ônibus chegou, o rapaz entrou depois de mim e sentou do outro lado do corredor. Comecei a orar silenciosamente por ele e fiquei em dúvida se devia ou não falar com ele. Falar o quê, meu Deus? Então, decidi e sentei ao lado dele. Disse que tinha ouvido a conversa deles e que precisava apenas falar uma coisa: ” Creio num Deus que nos ama. Ele ama você e pode ajudá-lo em qualquer dificuldade. Conte para ele o seu problema. Você vai vencer!” Ele ouviu, com a cabeça baixa, falou ” amém” e me agradeceu. Desci em seguida e não o vi mais…
Chegandoi em casa, fui olhar as notificações: três ” Bom dia”, alguns posts e uma chamada perdida…
Adicionei a Joana, mandei a receita da tapioca e, a partir daí temos trocado mensagens e vamos descobrindo algumas afinidades. Sinto que vamos ser boas amigas… Tenho orado por aquele rapaz, do qual não sei o nome, mas sei que o Senhor o conhece bem.
Concluo, então, que o celular, útil e necessário como é, não pode se tornar o centro da nossa vida. Precisamos voltar a “ver” as pessoas, interagir com elas, sorrir, nos encantar com a beleza ao nosso redor. Na verdade, devemos mais é curtir a vida real!