Num salão de Paris
a linda moça, de olhar gris,
toma café.
Moça feliz
Mas a moça não sabe, por quem é,
que há um mar azul, antes da sua xícara de café;
e que há um navio longo antes do mar azul. . .
E que antes do navio longo há uma terra do sul;
e antes da terra um porto, em contínuo vaivém,
com guindastes roncando na boca do trem
e botando letreiros nas costas do mar. . .
E antes do porto um trem madrugador
sobe-desce da serra a gritar, sem parar,
nas carretilhas que zunem de dor. . .
E antes da serra está o relógio da estação. . .
Tudo ofegante como um coração
que está sempre chegando, e palpitando assim.
E antes dessa estação se estende o cafezal.
E antes do cafezal está o homem, por fim,
Que derrubou sozinho a floresta brutal.
O homem sujo de terra, o lavrador
que dorme rico, a plantação branca de flor,
e acorda pobre no outro dia. . . (não faz mal)
com a geada negra que queimou o cafezal.
A riqueza é uma noiva, que fazer?
que promete e que falta sem querer. . .
Chega a vestir-se assim, enfeitada de flor,
Na noite branca que é o seu véu nupcial,
mas vem o sol, queima-lhe o véu,
e a conduz loucamente para o céu
arrancando-a das mãos do lavrador.
Quedê o sertão daqui?
lavrador derrubou.
Quedê o lavrador?
está plantando café.
Quedê o café?
Moça bebeu.
Mas a moça, onde está?
está em Paris.
Moça feliz.
(Cassiano Ricardo).
Moça feliz… Por que não? Mas, parece um tanto alienada: não percebe que o mundo todo não gira em torno dela… Não se conscientiza da importância dos relacionamentos, da interdependência entre o seres…
No ato de agradecer pelo que comemos, bebemos ou vestimos, precisamos nos lembrar das pessoas que cooperaram de alguma forma para que tudo isso estivesse à nossa disposição… Não apenas lembrar, mas verbalizar, orar em voz alta para que as crianças aprendam a agradecer pelo trabalho de tanta gente que colaborou para a nossa alimentação de cada dia.
O exemplo é a melhor forma de se ensinar, concordam?