Comemoração, por exemplo, é interpretada e realizada como festa. Comemoram-se aniversários da nascimento, de casamento, de fundação, prêmios obtidos e momentos especiais.
Algumas empresas têm várias e boas razões para comemorar: lançamentos de novos produtos, metas atingidas ou superadas, prêmios diversos, lucros extraordinários, inauguração de novas instalações, aquisições ou fusões e muitos outros motivos.
Em princípio, a celebração teria mais ou menos o mesmo sentido da comemoração, mas hoje, no jargão organizacional, celebrar passa a ter um significado mais profundo, mais interativo, menos “festeiro”.
Celebrar é compartilhar alegrias e vitórias, sem bandas e fanfarras. Celebra-se de modo discreto, quase silencioso, mas nem por isso menos intenso e verdadeiro. Para serem celebradas, não precisam ser grandes alegrias e vitórias – até porque estas não têm tamanho, peso nem altura. Ou são ou não são. Se são, devem ser celebradas.
Você celebra, por exemplo, quando manifesta claramente que reconhece a importância ou a qualidade de um colega. É preciso que se saiba que há um significado transcendente em cada gesto de reconhecimento – porque mexe com intensos sentimentos atávicos do ser humano. Em toda pessoa, há sempre um componente que merece ser celebrado – basta querermos ver e reconhecer. Talvez poucas formas de celebração sejam tão poderosas e gratificantes quanto o reconhecimento por um trabalho bem feito, uma ação meritória ou uma atitude digna.
Você pode celebrar juntamente com o colega a alegria dele pela entrada na faculdade, pela compra da primeira casa ou do primeiro carro, pelo nascimento de um filho, pelo casamento, pela promoção.
Celebração é algo que tem muito mais a ver com o coração do que com a razão – e pode-se fazê-la apenas com palavras, gestos ou preces, o que não seria possível numa comemoração, que está mais para festa. Portanto, são coisas diferentes, mas nem por isso uma é mais ou menos importante que outra.
Uma significativa diferença entre ambas é que as comemorações geralmente têm data certa para acontecer. As celebrações, não. Podem ocorrer a qualquer momento, em qualquer dia – basta saber que alguém realizou um sonho, superou um desafio, ganhou uma nova competência ou está vivenciando algo que o deixa feliz.
Com um abraço caloroso e sincero, você pode celebrar o encontro diário com o colega a cada manhã que o encontra no trabalho. As equipes sinérgicas e coesas costumam permutar celebrações entre seus membros, porque a alegria ou o sucesso de um é compartilhado com os demais. A base de qualquer modelo de gestão que pretenda ser um diferencial competitivo está diretamente condicionada à capacidade dos seus membros em celebrar as alegrias, vitórias e talentos uns dos outros.
Um elogio, um abraço, um gesto carinhoso ou fraternal, um e-mail de afago, um presente, um alegre telefonema inesperado… Estes exemplos de celebração mostram uma particularidade que deveria entusiasmar as empresas a estimulá-la entre seus colaboradores: pode ser feita a custo praticamente zero – o que não se pode dizer em relação às comemorações.
As comemorações agradam ao ego; as celebrações agradam ao espírito. Talvez por isso as primeiras sejam mais comuns e mais frequentes nas organizações. Muitas empresas ainda permitem que seu modelo de gestão de pessoas seja influenciado e avaliado pela satisfação dos egos dos seus gestores e, nessas condições, há pouco espaço para celebrações e muitas razões para comemorações – ainda que por razões às vezes questionáveis.
Por fim, é importante destacar que, mesmo com tantas diferenças práticas, há algo em comum e essencial entre comemoração e celebração. Algo tão fundamental que é quem de fato legitima sua autenticidade: em ambas, comemoração ou celebração, é absolutamente indispensável a presença do sorriso que sai do coração.
Sem isso, estaremos falando de outras coisas, menos de celebração e comemoração.
Floriano Serra : psicólogo clínico e organizacional, consultor, palestrante.
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