Construção

Meu sogro Saul e meu pai Vicente sempre trabalharam em construção – palavra bonita, de conotação bem positiva!  Meu pai fazia madeiramento de casas – serviço braçal pesado que, junto com as costuras da mamãe, garantia o sustento da família e o estudo das quatro filhas. Faleceu cedo, aos 57 anos, faz tempo. Mas creio que há pessoas morando nas residências onde ele colocou portas, janelas e forros. Eles se foram, porém os frutos do seu trabalho perduram, tanto na parte material quanto no legado de exemplo que nos deixaram e que nos orientam até hoje.

Pensando bem, somos também seres em construção. Mesmo com o passar dos anos, com toda a experiência acumulada nos vários períodos da vida, ainda não estamos “prontos”. Como bem disse o escritor Guimarães Rosa, “o mais importante do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, mas que elas vão sempre mudando.”

E os versos de Cecília Meireles:

“Tenho fases, como a lua 
Fases de andar escondida, 
fases de vir para a rua… “

Quase todos mudamos de ideia e de atitudes, adotamos novos rumos tanto na área profissional quanto nas preferências gastronômicas ou de lazer. Parece até que já vivemos várias vidas, ciclos que vão se sobrepondo, se entrelaçando para a formação do tecido em que nos transformamos. E ainda estamos incompletos, por maior que seja nossa longevidade, nesse processo de aprendizagem contínua. Talvez por isso mesmo cultivamos a esperança, pois “esperar é reconhecer-se incompleto”, nas palavras do mesmo Guimarães Rosa.

Que nosso caráter, que teve um alicerce seguro, possa continuar se moldando com materiais sólidos, resistentes, de excelente qualidade. Nada que seja descartável!  Que a argamassa da fé seja aplicada nos nossos relaciomamentos, solidificando amizades, evitando qualquer ameaça de rachadura…

E que “Deus nos ensine a contar nossos dias de tal maneira que alcancemos corações sábios.”

Foto da amiga engenheira Andréa Bonini