Não tão esperto…

Li um relato sobre alguém que visitou um amigo missionário, no Tocantins. Apareceu lá um sertanejo tentando vender objetos que havia feito. Não eram peças bem trabalhadas e o preço que ele pedia era muito acima do que valiam realmente. O missionário olhou bem para o sertanejo e concordou em pagar o valor pedido. O amigo, inconformado, chamou-o de lado e disse que era um absurdo pagar aquela quantia  por objetos tão toscos, um verdadeiro assalto. Então, o missionário lhe explicou:

– Esse homem  tem grande necessidade. Às vezes, é saudável não parecer tão esperto…

Naquela tarde, na cidadezinha próxima, viu o sertanejo colocando sacos de alimento no burrinho e dizendo que iria andar seis léguas (36 km) para levar os suprimentos para sua família, necessitada há vários dias.

Não faz muito tempo, na Rodoviária de Serra Negra, uma senhorinha idosa, encurvada, parou para descansar e ofereceu-me panos de prato, simples, de saco bem ralo, em que havia feito um caseado com linha vermelha. Pediu-me um preço elevado, equivalente aos belos panos bordados com lindos bicos de crochê expostos nas lojas. Ela me disse que tinha 88 anos e todos os dias percorria diversos pontos da cidade para recolher latinhas para reciclagem, que as pessoas guardavam para ela. Essa renda servia para ajudar a família muito carente. Como não comprar o pano de prato? Sei que não valia nem a metade, mas o sorriso da velhinha foi minha recompensa.

Sempre ouvi dizer que quando se fala em bom negócio é porque alguém saiu perdendo. Mas, na verdade, concordo com aquele missionário: “Às vezes é saudável não parecer tão esperto…”

“A compaixão é um idioma universal“, conforme disse Langdon, personagem de Dan Brown.

E o apóstolo Paulo recomenda:“Pratiquem o bem, sejam ricos em boas obras, generosos e prontos a repartir.” (I Timóteo 6: 18)