Esquecimento

Por: Zeneide Ribeiro de Santana

Não só os idosos esquecem. Ai que medo do alemão ! (Alzheimer). Penso que todos têm, pelo menos, um caso célebre de esquecimento, desses que marcam pra valer.

Ir ao banco para pagar conta e não levar o boleto, ficar um tempão na fila para fazer uma inscrição e esquecer as fotos, deixar em casa o trabalho que deveria entregar ao professor, entrar na farmácia e lembrar que a receita ficou no carro estacionado no fim da rua – são pequenas amostras banais do que acontece na rotina diária…

Há alguns anos, meu marido se esqueceu de licenciar o carro. Quando foi ver, o dia seguinte seria o último prazo. À noite quis deixar tudo à mão, para ir ao banco no intervalo do almoço. (Isso foi antes da Internet). Mas cadê a carteirinha de documentos? Minha mãe e eu procuramos a tal carteirinha branca em todos os lugares possíveis; só faltou olhar no congelador. Ela foi dormir e eu procurei mais um pouco ainda, depois não aguentei mais. Ele quase amanheceu procurando e, de manhã, perguntei se ele havia olhado no carro. Disse que sim, mas foi ver de novo. Perto do câmbio, a carteirinha preta estava encostada ao banco da mesma cor, por isso não a tinha visto à noite. Só que ele afirmava que a bendita carteirinha era branca!

Quando estava na sétima série, meu filho me avisou, na hora de dormir, que tinha de levar uma galinha, para ser dissecada na aula de Ciências, na manhã seguinte. Eu, que segundo a Cíntia, sou devota da Santa Antecedência,  fiz o devido sermão. Mas, precisei acordar a dona de uma avícola da vizinhança às 6:30, pedindo para ela matar e depenar uma galinha até as oito horas. O pior foi quando cheguei: a professora e os alunos estavam com luvas e aventais, todos alvoroçados com a novidade; só faltava a ave. Então, quando me viram entrar com a sacola, gritaram:

– Eba! Chegou a galinha!

Pois é, paguei o maior mico. E daquela vez o esquecimento nem foi meu.