Se quisermos falar com Deus

Nos passos acelerados da caminhada, nem sempre reparamos nos detalhes do trajeto. Ainda mais nestes tempos de uso incessante do celular. Basta olhar ao redor: quem não está com o aparelhinho nas mãos, teclando ou falando, parece fora do contexto. Estranho no ninho.

Impressionante como foi rápida e avassaladora essa dominação. Prestar atenção nas pessoas, observar a natureza, curtir os raios de sol ou a chuva leve e intermitente nem pensar! Como é que se vivia antes? Que dependência é essa?!

Parece que todas as atividades estão atreladas ao uso do celular e das tecnologias em geral. Cadê a vida pessoal, particular, a introspecção? Que necessidade é essa de se manter conectado o tempo todo? E a sensação incômoda de sentir que está se perdendo alguma coisa?

Refletindo sobre a espiritualidade, veio-me a recordação de uma letra de Gilberto Gil:

“Se eu quiser falar com Deus
Tenho que ficar a sós
Tenho que apagar a luz
Tenho que calar a voz
Tenho que encontrar a paz
Tenho que folgar os nós
Dos sapatos, da gravata
Dos desejos, dos receios
Tenho que esquecer a data
Tenho que perder a conta
Tenho que ter mãos vazias…”

Será que não estamos todos precisando de um tempo conosco mesmos, em silêncio, para tentar uma real conexão com nosso Pai? Não bastam  momentos apressados de preces telegráficas (se é que ainda se usam telegramas…), nem pedidos estilo “S.O.S”, meio mal educados… Que dizer, então, das determinações e exigências, como se Deus fosse um mero subordinado?

“Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas” –  recomenda o autor de Provérbios.

Se quisermos de verdade, reconheceremos a presença do Senhor a todo instante, não apenas na natureza, mas também no dia-a-dia, pois ele “está nas pequenas coisas e todas são importantes”  (título do livro de Bruce Bickel  e Stan Jantz)

Que possamos reconhecê-lo sempre para que nossos caminhos sejam endireitados. Amém!