Reviravolta, desarrumação, bagunça, confusão, ventania, desmanche, furacão – palavras que se relacionam pelo sentido, passando a ideia de coisas que se deslocam abruptamente, quase sem previsão.
São comuns, infelizmente, reportagens, às vezes em tempo real, mostrando o verdadeiro caos que se estabelece em poucos segundos. Triste de ver: telhados desmoronando, objetos que voam, carros revirados, pessoas soterradas, cenas absurdas, surreais mesmo.
Essa visão me perturba, tanto pela desordem como pela situação aflitiva, mais ainda quando há feridos ou mortos. Nem filmes de ficção sobre essas tragédias eu gosto de ver. Podem ter um bom enredo, com efeitos especiais surpreendentes, mas desligo a TV ou mudo de canal, pois a confusão me oprime e me deixa mal. Sou razoavelmente ordeira e procuro ser organizada; talvez por isso coisas fora do lugar me incomodam tanto. Será TOC?
Ouvimos ou até falamos: “Não se preocupe! Tudo voltará ao seu lugar!” Sei que é verdade, especialmente se tivermos paciência para esperar a ação do tempo – às vezes tão lenta – puro contraste com os dias que correm acelerados. Mas, aí penso que nem tudo volta ao seu lugar. Não podemos generalizar nem sobre isso.
E quem pode afirmar que, depois da reviravolta, tudo tem de retomar seu antigo espaço? E se o lugar atual for o mais adequado, propício ao bem-estar? Ah! Quantas coisas a considerar! Refiro-me a situações irreversíveis como a ausência definitiva, a despedidas, a sentimentos profundos, impossíveis de compartilhar…
Talvez por isso Voltaire tenha escrito “O tempo é justiceiro e volta a pôr tudo no lugar”! Quem sabe a sacudida aconteceu justamente para reposicionar?
Se for assim, é preciso estar atento para acomodar sentimentos, apaziguar a alma e confiar sempre naquele de quem vem “toda boa dádiva e todo dom perfeito, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação” (Tiago 1:17)
E tudo voltará ao lugar, sim, nem sempre para onde estava no início, mas ao lugar correto, lá onde mora a desejada paz de espírito.