Fazer das coisas fracas um poema.
Uma árvore está quieta,
murcha, desprezada.
Mas se o poeta a levanta pelos cabelos
e lhe sopra os dedos,
ela volta a empertigar-se, renovada.
E tu, que não sabias o segredo,
perdes a vaidade.
Fora de ti há o mundo
e nele há tudo
que em ti não cabe.
Homem, até o barro tem poesia!
Olha as coisas com humildade.
Fernando Namora, in “Mar de Sargaços
Com humildade, sim! Quem dera aprendêssemos a olhar tudo com humildade!
Que orgulho é esse que cega a gente, que incapacita a percepção das necessidades dos outros? Às vezes, nem os outros são vistos, quanto mais suas necessidades! Entretanto, diz o poeta “fora de ti há o mundo ” Então, como alguém pode se considerar dono do mundo, se “nele há tudo que em ti não cabe”? Não é uma incoerência, um paradoxo mesmo?
Vaidade, ambição desmedida, consumismo exacerbado são os melhores combustíveis para alimentar o fogo da indiferença, a mesma que não deixa perceber as pequenas coisas que fazem o encanto da vida… Apesar de que a indiferença parece se identificar muito mais com frieza, com gelidez na alma.
O texto apresenta a bela imagem do poeta, com seu sopro, conseguindo reanimar uma árvore rejeitada, a ponto de restaurá-la e fazê-la se levantar.
“Se até no barro há poesia”, Deus, o Artista por excelência, encontra beleza mesmo nas coisas minúsculas. E como não veria possibilidade de renovação nas suas criaturas tão miseravelmente centradas em si mesmas?
Imponente, do alto da sua soberba, muitas vezes o sentimento de superioridade impede que o orgulhoso perceba quão frágil, quão ilusória é essa postura… Quem, na sua hora final, se preocupa com promoções, joias, ações, investimentos bancários ou escrituras de imóveis?
Infelizmente, muitos, só nesse momento, se dão conta de como são carentes da graça e da misericórdia de Deus. Aí talvez tomem consciência da sua fragilidade e se tornem humildes, de fato. Então, talvez se entreguem aos cuidados Daquele que realmente sabe “fazer das coisas fracas um poema”.