Tenho uma velha amiga, no tempo e no espaço, como ela diz. São muitas as histórias desse longo período de convivência. Hoje vou falar sobre compras.
Uma vez ela foi experimentar calças no provador de uma loja. Nenhuma deu certo e ela estava pra sair quando, de repente, não encontrava as próprias calças. Abriu um lado da cortina e chamou a vendedora, perguntando se não havia devolvido as suas calças junto com as que provara.
A vendedora, calmamente falou:
– Não! A senhora chegou usando saia! Essa aí no seu corpo!
Bem, estes dias fomos juntas fazer compras no Brás. Entramos em diversas lojas que vendem a varejo aos sábados. Aí começaram os comentários em voz alta:
– Aqui não tem nada de bom!
– Não, vamos andar deste lado da rua, porque na calçada de lá tem muito sol!
– Estou procurando uma blusa preta, não essas aí…
– Já tenho duas blusas brancas… (quando mostrei uma de que EU havia gostado)
Enfim, encontrou a tal blusa, foi pagar e esticou o dedo para a moça no caixa, dizendo:
– Isto que vocês fazem aqui é crime!
A moça até se encolheu e nem perguntou nada, mas ela explicou:
– Vocês não deixam a gente experimentar! Não é certo! E quem inventou isso foram vocês, coreanos!
Nessas alturas, saí devagar e fui esperá-la na porta. Aí entramos numa outra loja, bem movimentada e vimos que só estavam expostos tamanhos grandes.
– Essas roupas são pra gordinhos!
Dei-lhe um cutucão discreto, mas ela nem ligou e repetiu ainda :
– Eu disse que essa loja é só dos gordinhos…
E saímos sob o olhar raivoso das clientes que escolhiam as peças. Ainda acrescentou:
– E não é verdade? Se alguém disser que eu sou magricela, não acho ruim, pois sou mesmo…
Num outro lugar, com boas ofertas, havia tanto movimento que as compras eram pagas a dinheiro, ali mesmo na frente da loja.Vou saindo com a sacola e vejo a minha amiga exigindo nota fiscal. Até irem ao fundo da loja para providenciar, gastou mais tempo que na escolha e na compra…
Enfim, tomamos um lanche e viemos embora, lembrando uma outra vez em que ouvimos a dona de uma confecção dizer um palavrão, na brincadeira, para uma compradora. Foi aí que ela entrou no papo e disse:
– Sabe para onde você vai com essa boca suja? Pro inferno!
A coreana empalideceu, falando um “Deus me livre!” assustado.
Mas, na hora de pagar, se desculpou, conversou gentilmente com a moça e falou-lhe do amor de Deus.
Essa é minha velha amiga, espontânea, que fala bastante, me quer bem, ora por mim e tem um lugar no meu coração.
Acho que conheço essa amiga, mais do que especial!
Conhece, sim! E é especial mesmo.