Este jegue? Tá veinho já, mas é ainda muito arretado! Ô se tenho história pra contá… Avalie! Tem légua e mais légua nesse sertão sem fim… muita seca, muito sofrimento… e ele sempre junto, melhor que muito cabra por aí.
Qué que eu lhe conte uma? Oxente, conto, sim, mas num é desse meu jumento, é de outro, muito antigo, lá de um lugar bem longe. Assunta bem! Não, num lembro o nome daquela caatinga. Sei que é de uma lonjura só, lá onde o vento faz a curva… É o causo mais bonito que já ouvi sobre esse tipo de animal de carga…
Pois num é que um certo dia, um cabra tava dando de cumê os jegue dele, quando chegaram dois camarada, vindo de sei lá onde, e pediram emprestado um dos jumentos.
Primeiro, ele achou estranha aquela lenga-lenga dos dois enxeridos e já ia mandando os abestado pastá. Depois, olhou bem pra eles e a coragem foi embora. Não podia negar, de jeito nenhum… Quando deu fé, ele mesmo tinha desamarrado o mais forte dos animais.
Quando os dois se foram levando seu burrinho de estimação, o cabra endoidô; ficou com gastura, começou a arrancar os cabelos e a se chamar de abestado. “Burro sou eu, que fui engabelado, e não o pobrezinho do bicho!”
Passou o resto do dia e a noite toda destrambelhado e nem contou nada pra mulher, nem pra mainha: não queria se lascar mais ainda… E não é que no outro dia lhe devolveram o jumento? Sãozinho, com ar espevitado…
Foi aí que ficou sabendo que seu jegue tinha estado em Jerusalém. Mais ainda: tinha carregado nosso senhor Jesus Cristo pelas ruas, aclamado por uma multidão. O povo levava galhos dos pé de planta, batia as mãos e jogava as capas no chão para forrar o caminho por onde ele passava. E gritavam:
– Hosana, bendito o que vem em nome do Senhor!
Deve ter sido uma festança da bexiga! E o bichinho dele lá, servindo de montaria pro Rei dos Reis!
– Não foi uma honra? Arre égua! Não é o déiz?
